Vizinhando

09-02-2022


Os vizinhos vivem perto de nós, às vezes no mesmo prédio ou no mesmo andar, constituindo a comunidade do nosso núcleo habitacional - a nossa família alargada. Sabemos que estão lá, pois nós ouvimo-los e eles sentem-nos, mas pouco mais. Vemo-los ocasionalmente e, por detrás das nossas máscaras, damos-lhes agora os bons dias e as boas-noites, nas raras vezes que nos cruzamos. É, no entanto, óbvio que comunicamos e convivemos pouco.

Quando viemos morar para o nosso prédio, a grande maioria dos condóminos era constituída por casais jovens. Dávamo-nos muito bem, participávamos regularmente nas reuniões de condomínio, os nossos filhos brincavam no terraço comum e partilhavam as casas uns dos outros. No nosso caso, chegámos a ser padrinhos de casamento de um e de comunhão de outro.

Entretanto envelhecemos. Alguns de nós já partiram, seja porque deixaram de ser contemporâneos, ou porque decidiram dar outro rumo às suas vidas. A integração dos novos residentes processou-se com normalidade, mas perdeu-se a interação, o convívio de casa, o à-vontade com que pedíamos um ramo de salsa ou de coentros, que nos havíamos esquecido de comprar. No Natal, já não se trocam bolos e as prenditas que os tornavam informalmente parte da nossa família.

Os vizinhos constituem um recurso importante, acessível e amigo. Estão por perto e podem ajudar-nos em momentos de aflição. Não é só a chave que nos esquecemos de trazer, a campainha da porta que não funciona, os volumes que temos que levar para cima ou a recepção da encomenda quando não estamos por casa. Eles podem ser também os melhores vigilantes da sua propriedade quando está ausente.

No meu caso já assisti quase toda a gente, seja por motivos de saúde ou outros, inclusivamente no domínio de um incêndio, no alagamento da garagem ou no desencarceramento de um elevador. Do mesmo modo, já me levaram ao hospital quando precisei de ser assistido de urgência.

Ser um bom vizinho pressupõe entreajuda, razoabilidade e compreensão pela visão e estilos de vida de terceiros, ponderando sempre como o nosso comportamento os pode afectar também a eles (melhor fazê-lo que dizê-lo!).

Cumprimente os seus vizinhos. Demonstre interesse por eles e pela sua situação. Disponibilize-se para ajudar. Envolva-se na resolução de problemas, bem como, na sugestão de implementação de melhorias que impactem o património comum e a sã convivência. Envolva nesse processo a sua família, nomeadamente os seus descendentes, para que deem continuidade a esta dinâmica.

Avizinhe-se!

Nunca sabemos o que os nossos vizinhos podem fazer por nós.


Lisboa, 31 de Janeiro de 2022

José Aleixo Dias (1)

 (1) O autor escreve de segundo o antigo acordo ortográfico