Usados
Os jornais e a internet estão cheios de anúncios para compra/venda de ouro usado, carros usados, propriedades em trespasse, de máquinas de todo o tipo e de uma panóplia de bugigangas que excede, seguramente, o que possamos imaginar.
Para alguns destes bens compreende-se que o seu uso prévio implique desgaste, estrago e, como tal, a correspondente desvalorização.
Porém, no que se refere a muitos outros, como o imobiliário, o uso pode até ser irrelevante face ao design, à solidez de construção, à qualidade dos materiais, à localização, à envolvente ambiental, à acessibilidade, etc, traduzindo-se até numa relevante valorização patrimonial.
O ouro, constitui disso um exemplo flagrante. Porque é que o uso o desvaloriza? Não continua a ser ouro?
No meu entender, trata-se de um expediente de quem está disponível para investir neste metal, que sublinha o uso como forma de desvalorizar o produto, visando uma maior margem na revenda.
E o capital humano?
Será que o seu "uso" o valoriza ou desvaloriza?
Presumo que a resposta mais plausível será: Depende!
Se se tratar de saberes com pouca utilização nos dias de hoje, porventura perderão algum valor de mercado, mas ganharão muito na sua preservação para memória futura.
O saber acumulado em cada um de nós é um tesouro discreto resultante da experiência vivida, que não brilha como o diamante, não deslumbra como o ouro, nem se mede em quilates, mas é sólido, disponível e fácil de utilizar.
Se tiver oportunidade de partilhar este pecúlio, não hesite em fazê-lo, pois o tempo fará esquecer práticas, que não se transmitam ou documentem.
Transponha-se!...
Lagos, 27-07-2022
José Aleixo Dias(1)
(1) O autor escreve segundo o anterior acordo ortográfico
Fotografia de Jorge Gonçalves Silva