Transições 

08-11-2021


Certo escritor, em uma de suas obras, comparou a vida a um caminho com várias bifurcações, mas nenhum retorno. Uma estrada de sentido único, sendo impossível entrar na contramão. Pode-se caminhar depressa ou devagar, mas não se pode parar. O tal escritor conclui que o tempo se encarrega de nos empurrar para frente, em direção ao inexorável fim da estrada.

Esse trecho veio à minha mente num momento em que estou a ponto de me aposentar, o que significa despedir-me de uma atividade na qual me empenhei por mais de quarenta anos. Toda uma rotina de trabalho, uma rotina de vida, desaparece subitamente, abrindo um vazio que deve ser preenchido.

No meu caso, a rotina esteve sempre sujeita a variações. Refiro-me às constantes mudanças implícitas na vida de um diplomata. Novos países, cidades e idiomas, além de diferentes temas e afazeres com que me defrontei nessas mais de quatro décadas. Pensando bem e olhando para trás, vejo que mesmo essas mudanças constantes acabaram por se tornar rotineiras.

Encontro-me, portanto, diante de uma daquelas bifurcações acima referidas. Que novo caminho tomar?

Vejo colegas que sempre viveram exclusivamente para a carreira, sem outros interesses fora dela. De repente, chegada a aposentadoria compulsória, ficaram sem ter o que fazer. Viram-se sem alternativas ao vazio que se impôs sobre suas vidas. Uns tornaram-se pessoas chatas e desinteressantes, outros passaram a abusar da bebida ou ainda a apresentar súbitos sintomas de doenças graves.

Felizmente não me incluo em nenhuma dessas categorias. Sempre tive interesses paralelos às atividades puramente profissionais. Leio muito, tenho paixão pela música, cuido do lado físico, frequentando uma academia de ginástica, pratico natação, gosto de viajar (não mais a trabalho...) e explorar novas áreas de conhecimento. Enfim, procuro ocupar meu tempo (sempre na esperança de que o final daquela estrada ainda esteja longe) de forma agradável e criativa.

Fica aqui o conselho para aqueles que estão nessa fase de transição para a vida de aposentado.

João Solano (1)

(1) O autor escreve em português do Brasil