Tradições Portuguesas

13-02-2025

Uma das riquezas deste nosso lindo país é a sua diversidade cultural, alicerçada em séculos de história.

As tradições são o resultado de inúmeras influências de culturas tão distintas como a árabe, a judaica ou a africana, para só referir algumas, e que no processo de contacto/influência, se misturaram com tradições locais enriquecendo e moldando o nosso património cultural.

A identidade portuguesa e as suas tradições foram também fortemente marcadas quer por acontecimentos/períodos históricos, como os Descobrimentos pelo "banho" de contacto com outras culturas, quer pelo Catolicismo que durante muitos séculos foi a religião oficial.

Hoje, perante a ameaça da globalização que potencia a uniformização e alguma descaracterização, o papel das tradições ainda é particularmente importante enquanto reforço do sentimento de pertença e preservação da memória coletiva de um povo.

Deste verdadeiro tesouro nacional de tradições das mais variadas raízes (religiosas, regionais, gastronómicas, artísticas, costumes e crenças, etc.), vou referir uma que emocionalmente me "toca" de forma particular: o dia da espiga.

Esta é um bom exemplo do "casamento" entre uma celebração pagã, que marcava o início do verão e da época das colheitas e a cristianização da sociedade, associado à festa da Ascensão de Jesus Cristo.

A tradição determina que, neste dia se efetue um passeio pelo campo e se colham espigas de cereais (o Pão), flores silvestres (Fortuna e Amor), alecrim (Saúde) e ramos de oliveira (Paz). O ramo que resultar deve ser guardado durante todo o ano, como símbolo de proteção e prosperidade.

A simbologia está associada ao Agradecimento (à natureza pela abundância), à Esperança (numa boa colheita e num futuro próspero) e à Comunidade (oportunidade para fortalecer laços e partilhar tradições).

A modernização da agricultura, o crescimento das cidades com a redução dos campos nas áreas circundantes e a pressão da globalização ameaça esta tradição. Apenas a valorização do património cultural e a capacidade de adaptação aos tempos que vivemos, sem perder a sua essência, pode preservar este tesouro cultural.

Embora tenha sido um menino da cidade, esta tradição remete-me para a memória da minha Mãe e da minha Avó, a quem estarei eternamente grato também por comigo terem partilhado e promovido dias inesquecíveis associados a esta tradição.

O ritual da caminhada pelo campo, da preparação do ramo e do simbolismo do momento de o guardar, salpicado com as histórias e interpretações associadas a esta tradição ficarão para sempre na minha memória.

O nosso legado é conseguir transmitir às novas gerações todos estes simbolismos e pelo menos sermos capazes de lhes explicar a razão porque, um dia por ano, existem vendedores de pequenos ramos "diferentes" nas nossa cidades.

José Timóteo, janeiro 2025