Tradições da Minha Infância

13-02-2025

Nasci no Baixo Alentejo num pequeno povoado / em ambiente rural / Com algumas tradições que marcaram / a minha e muitas outras gerações!


Algumas, eu não vivi, mas cito-as porque as ouvi

descritas pelos mais velhos,

Para integrarem a história e ficarem na memória

Dos que nasceram ali!


Aos Pais, aos avós e tios era pedida a Benção

Indo beijar-lhes a mão.

Os Pais eram tratados por um formal vossemecê

e inspiravam tal respeito

Que nunca se punha em causa, um seu, contundente, Não !


O luto pelos mais queridos no vestuário se mostrava

a viúva, para sempre

Só de preto trajava…com saia até meio da perna,

meia preta e opaca.

Na cabeça, o lenço preto apertado em rebuço

Nem o sorriso mostrava.

E num período inicial sobre a cabeça ou ombros

Um xaile negro, ainda mais, sua dor sublinhava!

A nível alimentar, não era pra todos igual,

Mas para os que podiam

Havia as iguarias próprias pra dias de Festas

Como a Páscoa ou o Natal!


De entre muitas, as filhós, eram mesmo as rainhas.

Recordo as de minha Mãe: deliciosas e tenrinhas!


Na manhã de Carnaval pra acompanhar "o café"

uma rica friginada,

Frita, numa sertã, ao lume na chaminé!


Uma mistura de carnes - de porco - era envolvida

em vários ovos batidos

Cujo sabor e aroma eram festa p'ros Sentidos!


Ao nível da diversão, foram na região,

famosas as Cavalhadas,

Um jogo de sorte e azar: Várias panelas de barro

eram expostas num varal

E entrava no jogo um Homem montado num animal!

*"Na Quarta -Feira de Cinzas, a correr em seus jumentos

os inscritos procuravam

Com varapau acertar na panela que continha

Um frango para guisar!

Um jogo bem divertido, mas que exigia perícia

e acerto na premiada

Pois várias continham cinzas, que sobre eles se espalhavam,

Sempre que alguma dessas, fosse a panela quebrada"!


Na Páscoa, p'la noite fora, havia o Baile da Pinha

que terminava quando um par

A fita certa puxava e a pinha rebentava

Dando assim a conhecer, os novos, Rei e Rainha!

O mastro de S. João, feito pelas raparigas

Garantia animação durante noites seguidas:

"Com bailes abrilhantados pelo som da concertina

ou quando esta faltava

Ao simples som de flauta ou, mesmo só, de cantigas"!


O cante tradicional era cantado p'los homens

na taberna diariamente,

Entre rodadas de copos: de vinho ou de aguardente!


A matança do porco era também tradição

e no final distribuía-se

P'los vizinhos mais próximos, carne para a refeição!


A farinha para o Pão no Moinho era comprada

e depois de peneirada

E p'las Mães amassada era muito bem tapada

para poder levedar…


Depois de estar levedada, belos pães eram "tendidos"

E em grandes fornos de lenha eram depois bem cozidos!


E era a base da alimentação esse delicioso Pão!

E a tradicional açorda, lá ia então alternando

Com o bom "jantar" de couve e o de feijão ou de grão!


Era diferente a maneira de as refeições nomear:

o pequeno almoço, era o café
O jantar era o almoço, o lanche era a merenda

E a ceia era o jantar!


Por isso hoje, eu recordo com alguma emoção

Que era frequente ouvir-se responder à pergunta:

O que é hoje o almoço? - É um "jantar" de feijão!


Toda a roupa das famílias, na ribeira era lavada

Pelas Mães ou Lavadeira. A branca "corava" ao sol!

Depois com ferro a carvão, era muito bem passada!


A água vinha do poço em Quartas de barro

Que a mulher assentava na cabeça, com "rodilha"

E a perícia era tal, que ela seguia segura e apesar da altura,

A quarta equilibrava e nada corria mal!


O namoro era à janela com a mãe sempre por perto

Não fosse o namorado, resolver, "armar-se em esperto"!


E no dia do casamento os noivos quando chegavam

Da igreja, já casados, (Ao entrar no povoado)

Para alegria das crianças atiravam rebuçados!


As crianças brincavam, livremente pelas ruas

E quando os campos se vestiam com coloridas flores

Colares de várias cores

Enfeitavam as meninas, claro… as mais pequeninas

Que ficavam uns amores!

Leonor Alvito, 1 de fevereiro 2025

Nota: o texto foi escrito segundo o antigo acordo e foram mantidos os "termos usados na época".

As tradições descritas referem-se ao lugar, onde a autora nasceu e cresceu até aos 10 anos.

*in,Homenagem ao Mestre…. , poema de Leonor Alvito, 2024