Textos Dramáticos
Teatro de Dionísio
Para muitos o Teatro representa um momento de entretenimento e pausa da agitação do dia-a-dia, ou simplesmente a procura de um outro olhar sobre o fazer artístico e sobre o mundo, mas também um fazer próprio, sair da cadeira de veludo almofadado do espectador e pisar o palco, ou pelo menos uma sala de aula ou ensaio. A verdade é que o Teatro também pode estar em nossa casa, num espaço mais íntimo e recatado, e até num reunir dos que mais gostamos para um estar em conjunto. O prossuposto de um texto teatral é por último o da representação, do colocar em cena. Ainda assim, a leitura é um fazer não só importante, mas também prazeroso, que o Teatro engloba. Isto inclui tanto textos teóricos como os mais conhecidos textos dramáticos, os que têm as personagens, as suas falas e as didascálias (não só, como as sugestões mostrarão, mas simplificando) e que podemos ler como um romance, criando vozes na nossa cabeça para cada pessoa, visualizando mesmo a cena, ou, juntando familiares e amigos, e ler em conjunto num serão bem passado.
O texto dramático tomou muitas formas e estruturas e conheceu muitos autores. Para facilitar a escolha das próximas leituras, segue-se um simplificado itinerário pela escrita teatral, com algumas sugestões.
Atribui-se o surgimento do Teatro aos gregos e à sua polis (facto sobre o qual também existem muitas interessantes leituras), na chamada Antiguidade Grega, com as famosas Tragédias Gregas. Entre estas destacam-se algumas que prometem sem dúvida leituras apaixonantes, fervorosas e de grande questionamento acerca dos grandes princípios humanos, a moral, a ética, a morte:
- Trilogia Tebana de Sófocles: "Rei Édipo, "Édipo em Colono" e "Antígona"; "As Bacantes" de Eurípides; "Prometeu Agrilhoado" de Ésquilo.
No Teatro da Grécia Antiga representavam-se também comédias, sobre as quais não sabemos tanto, em grande parte devido à perda do texto de Aristóteles sobre a comédia. Mas temos como um exemplo: "As Rãs" de Aristófanes.
Com a chegada do Cristianismo, o Teatro, pelo menos o público, cinge-se a representação teatrais religiosas, e por isso os seus textos são adaptações ou mesmo reproduções de passagens e episódios bíblicos. A produção de escrita teatral com outras temáticas não é divulgada ou potenciada. Este é o período da Idade Média, que vê o seu fim num momento de questionamento religioso e da condição humana e da consequente chegada do que chamamos o Renascimento, marcados pela revolução artística dos mais diferentes domínios.
O Teatro renascentista é marcado pelo nome de William Shakespeare, cujo reportório é largamente conhecido
- "Hamlet", "Rei Lear", "Ricardo III", "Macbeth".
Ainda assim, o Teatro isabelino, assim se denomina o Teatro produzido nesta época, maioritariamente apoiado pela corte da Rainha Isabel I, apresenta-nos outros nomes, entre os mais relevantes Christopher Marlowe (várias suspeitas se levantam de ser também ele o autor de algumas das peças que Shakespeare assina)
- "Eduardo II" ou Dido, a "Rainha de Cártago", entre outros.
O Teatro do Renascimento surge noutros países, com a diferença de alguns anos e alguns traços de estilo específicos, mas reúne muitos dos nomes mais conhecidos na História do Teatro.
Em Espanha, no chamado Século de Ouro Espanhol, destacam-se:
- Lope de Veja, Tirso de Molina e Pedro Calderón de La Barca que nos escreve "A Vida é Sonho" e "O Grande Teatro do Mundo".
França é marcada pelo que se chama o Teatro Barroco e Neoclássico Francês com nomes como:
- Corneille e a sua "Ilusão Cómica", Jean Racine escritor de "Fedra", e Molière, um ávido escritor, autor de obras como "Tartufo", "Escola de Mulheres", "O misantropo", e outras.
O Teatro em Portugal é marcado pelo nome de Gil Vicente, contudo, uns anos mais tarde, dissemina-se a chamada Portuguesa Ópera, uma vez que as casas de espetáculo se destinavam maioritariamente à encenação de óperas. António José da Silva foi um importante autor de óperas cómicas inspiradas nas óperas bufas italianas, feitas com marionetas, uma delas:
- "Vida do Grande Dom Quixote e do Gordo Sancho Pança".
No fim do século XVIII e início do século XIX dão-se em simultâneo diversos fenómenos, em diferentes pontos da Europa: em França emerge a Revolução Francesa e na Alemanha surge um novo movimento filosófico, o idealismo dialético. Ambos, e as pequenas mudanças que ocorrem noutros países, também por influência destes, redirecionam as motivações, questionamentos e ideais das sociedades ocidentais. O Teatro vai ser marcado por uma mudança de perspetiva, que passa agora a dar primazia às emoções e imaginação como critérios da manifestação da verdade e originalidade artística. A este movimento chama-se Romantismo e é marcado por nomes como os de Goethe, Victor Hugo, Schiller, Alexandre Dumas ou Almeida Garrett.
Contudo, este movimento em pouco tempo se desvanece com um contínuo questionamento entre os círculos de pensamento europeu. Certamente, os pressupostos apresentados por Nietzsche, Kierkegaard ou Karl Marx influenciaram a estruturação do Teatro Naturalista e Simbolista. Estes dois movimentos preocupam-se, por um lado, com o real e as condições dos indivíduos, por outro em explorar os mistérios da existência, e embora muitos autores escrevam seguindo apenas um dos movimentos, grande parte deles une ambas as inquietações, escrevendo os textos que caracterizarão o Drama Moderno.
- Émile Zola marca o Naturalismo; marcando o Teatro Simbolista, Alfred Jarry, em França, escreve "Ubu Rei" e Federico Garcia Lorca, em Espanha, a trilogia "As Bodas de Sangue", "Yerma" e "A Casa de Bernarda Alba"; Strindberg, Tchekov e Pirandello são alguns dos que definem o Drama Moderno, com peças como "A Menina Júlia", "As Três Irmãs" e "Seis Personagens à procura de um Autor", respetivamente.
De uma ainda maior emancipação do indivíduo e consequente cisão da sociedade que o oprime surge o movimento do Realismo propulsionado, no Teatro, por Ibsen, autor de:
- "Peer Gynt", "A Casa de Bonecas", "Hedda Gabler", "Um Inimigo do Povo";
A partir deste momento, eventos como as duas grandes guerras vão marcar enormemente a posição do indivíduo e do coletivo no mundo: a forma de encarar a violência e a morte, o absurdo da existência humana. A produção teatral vai proliferar em várias direções e, mesmo seguindo uma tendência de abandonar cada vez mais as convenções do texto dramático, de forma a aproximar-se à própria manifestação fragmentada, ilógica e abstrata dos acontecimentos e fenómenos da vida, cada autor vai destacar-se com o seu próprio fazer, nunca igual a outro ou a si próprio, constituindo camada a camada a intricada teia a que se chama Teatro Pós-Dramático. Embora a linha seja ténue na definição dentro deste momento da produção teatral, mais no seu iniciar-se, na sua transição, ou já no seu auge, encontramos os principais autores (e algumas sugestões de obras):
- Bertolt Brecht: Mãe Coragem, O Círculo de Giz Caucasiano, A Vida de Galileu;
- Samuel
Beckett: À Espera de Godot, Impromptu de Ohio, Not I;
- Heiner
Müller: Máquina-Hamlet, Margem ao Abandono;
- Pier Paolo Pasolini: Afabulação, Teorema;
- Caryl
Churchil: Distante, Uma Boca Cheia de Pássaros;
- Sarah
Kane: 4.48 Psicose.
Luísa Pires, Setembro 2023