Teresa Marques

23-03-2024


A ideia da Transições nasceu da minha própria transição. Após 40 anos de trabalho estava pronta para me reformar? O que significava estar reformada? Sempre que falava nessa eventual hipótese à família, ou aos amigos, todos me olhavam com ar reprovador. Mas o que vais fazer? Confesso que demorei bastante tempo a tomar a decisão e rapidamente concluí que, depois de ouvidos todos os que me estão próximos, ia ser uma decisão solitária, minha. Li muito sobre o tema, falei com muitas pessoas e rapidamente concluí que o tema não é fácil. Deixando o aspecto financeiro de lado (se bem que este também é importante e fundamental) o que se questionava era, depois de 40 anos a apresentar-me dizendo nome apelido e o que fazia, como é que de repente passava a ser só a Teresa? E o tempo que nunca chegava para nada, trabalho, trabalho, trabalho, ia agora sobrar ao ponto de ficar aborrecida, deprimida?

Tomada a decisão de me reformar, antecipadamente, 60 de idade – 40 de trabalho, ficou claro para mim que o tema era importante e que, se do ponto de vista financeiro há empresas/instituições a quem recorrer para nos aconselharmos, do ponto de vista social e emocional o vazio é enorme. Conhecia histórias de pessoas muito ativas enquanto trabalhavam e que um dia na reforma ficavam coladas ao sofá, deprimidas, tristes, sós. E como sabemos também há casos, poucos que saibamos, em que a pessoa morre, e outros, estes já um pouco mais, em que desenvolvem doenças neurológicas de difícil retorno, como, por exemplo, o Alzheimer. No fundo a pessoa "perde o norte", se não se preparou para encontrar outro, se calhar desta vez "o sul".

E a Transições surge assim, havia que tentar prencher esse vazio. Os que se tinham reformado e estavam bem poderiam partilhar com os que estavam em transição, ou tinham dúvidas; os que estavam assustados com a ideia podiam encontrar um lugar onde conhecer outras pessoas que estavam a passar pelo mesmo. Conversas, recomendações, troca de experiências, tudo tão útil e precioso, nesta fase da vida. Por isso hoje a Transições faz três anos. Porque muitos, membros, seguidores do Facebook e do LinkedIn, encontraram aí um porto seguro, um lugar bom para estar, fazer, ou ensinar coisas novas, conhecer novos amigos, enfim escrever uma nova fase da vida.

Durante estes três anos a Transições deu-me a certeza que o tema é importante, que há muito para fazer, e que estamos sempre a aprender. Estar em transição, ou estar reformado, é um continuo de experiências e vivências novas. E foi isso que me aconteceu. Aprendi imenso, conheci muitas pessoas fantásticas, fiz coisas que nunca tinha pensado ser capaz, e tenho a certeza que, quando paira alguma dúvida no ar sobre onde estou e para onde vou, nesta fase da vida, a Transições está lá para mim.

E confesso, nunca, em 5 anos de reformada, me arrependi da decisão. E facilmente concluímos que há muito na vida para além do trabalho. Que bom que tive a sorte e a possiblidade de me reformar, um outro mundo se abriu. Agora é só percorrer a estrada seguindo o lema da Transições – uma reforma ativa, saudável e feliz.

Teresa Marques

23 de Março de 2024