Será que o amor é azul?
Esta é uma das perguntas feitas por Jorge Calado no seu último livro Mocidade Portuguesa*, onde acima de tudo relata a sua própria mocidade, referindo-se detalhadamente às pessoas, aos costumes e ao tipo de vivência experimentados igualmente por muitos de nós.
É, pelo menos, uma cor para todas as estações e a cor da paz e da liberdade, refere.
O Jorge é uma força da natureza, um cientista e professor jubilado do Instituto Superior Técnico, da Universidade de Oxford e de Cornell, melómano, fotógrafo, pedagogo, crítico cultural nas áreas da música, da fotografia e das artes em geral, colaborando com o Expresso há mais de trinta anos e faz ainda o favor de ser nosso amigo.
A minha opinião poderá ser considerada enviesada pela amizade, mas garanto-vos que não é. Conhecendo os seus trabalhos anteriores: Limites da Ciência e Haja Luz, esta última obra editada pela Imprensa Nacional Casa da Moeda surpreendeu-me pela forma solta, fluida, despregada de formatos e deliciosa nos detalhes, com que nos conta a sua experiência de vida e nos faz recordar a nossa.
Ambos lemos e colecionámos o Cavaleiro Andante, fascículo em banda desenhada que era um suplemento do Século. Diz o Jorge: "uma parte considerável da minha cultura geral vem da banda desenhada". Eu confirmo que foi aí, ao ler uma história sobre mergulhadores apanhadores de esponjas no Mediterrâneo que aprendi, por exemplo, que: o corpo deitado aguenta muita fome.
Foi no Cavaleiro Andante que lemos as primeiras histórias da cadela Lassie, do Tintim e do Michel Vaillant.
Tal como o Jorge, também eu me recordo das reguadas, palmatórias e orelhas de burro, ou das cópias, ditados e redações que instruíam a nossa escrita e leitura. Das letras gótica e francesa, das brincadeiras de rua, dos amoladores, dos "galegos" e dos guarda nocturnos. Lembro-me muito bem e ainda sinto o cheiro exalado por varinas, carvoarias, tabernas e casas de petiscos, com as suas iscas, pipis e cheirinhos.
Revivo ao ler este seu livro a confraternização com vizinhos, colegas e amigos em pastelarias e salões de bilhar, nas visitas regulares e nos passeios de fim de semana.
Tal como ele, adorava as maminhas das carcaças e os cantinhos queimados dos queques, bem como, aquelas duas passas que os encimavam e que deixávamos para o fim.
A propósito, sabe porque desapareceram as referidas maminhas dos papos-secos?
Não? Então não deixe de ler este livro. Vai deliciar-se!
Lagos, 05 de Setembro de 2022
José Aleixo Dias
(*) - Jorge Calado; Mocidade Portuguesa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, Março de 2022