Explorar todos os sentidos Schloss Freudenberg - Alemanha (Julho 2022)
Estávamos em Wiesbaden,
na Alemanha, para o casamento da minha irmã. O aniversário do nosso filho era
na véspera da boda e não havia margem para grandes festas de anos...Eis que nos
sugerem uma visita ao Schloss Freudenberg, uma espécie de museu, também
conhecido como o Castelo dos Sentidos. Imaginando a reacção do meu filho de 17
anos, do tipo - Mãe, a sério... um museu??? - fiquei surpreendida e aliviada
quando ele anuiu com um entusiástico "Bora lá!"
Um edifício imponente do início do século passado, este palacete de três andares acolhe-nos com um jardim enorme, onde os mais pequenos se podem divertir com vários equipamentos infantis e de arborismo, e onde uma esplanada simpática nos oferece um cafezinho de boas vindas.
Transposta a escadaria de pedra que nos leva à entrada, estudámos o mapa que nos facilitaram na recepção, e percebemos que o palacete alberga ao todo umas 60 "estações" diferentes para jogar, explorar e deslumbrar. Não vou aqui comentá-las todas obviamente, mas vou passar por cinco (uma por cada sentido) só para vos dar um "cheirinho" (pun intended).
Audição - deitados no chão de olhos fechados, à volta de uma sala onde se encontram vários gongos. Enquanto um moderador toca em pontos distintos do mesmo gongo, ou em vários gongos ao mesmo tempo, percebemos tanto com a audição, mas também com o corpo todo, a vibração mais fraca ou mais forte das ondas que se propagam tanto pelo ar como por todo o espaço físico. Quase como um sonar, percebemos como alguns animais usam o som e a ecolocalização para se orientarem. Impressionante!
Visão - imaginem entrar numa sala preenchida com pêndulos de cristais de cima a baixo. O que os cristais fazem é deturpar a imagem com a reflexão da luz, portanto à medida que andamos pela sala, vemos por exemplo as pessoas que caminham à nossa frente, de cabeça para baixo; ou cortadas a meio com o tronco num lado e as pernas noutro. Hilariante!
Tacto - Num outro espaço, temos vários jarrões de barro em cima duma mesa. A ideia é meter a mão lá dentro, e apenas usando o tacto, descobrir o que está dentro de cada jarrão. Aracnofóbica confessa, tive que ser persuadida a meter a mão lá dentro. Sem spoilers. Interessante!
Olfacto - Passando por frascos opacos contendo várias especiarias, identificar apenas pelo cheiro, quais ingredientes são doces, amargos, perfumados, azedos. Alguns mais fáceis outros mais difíceis. Desafiante!
Paladar - Por fim, a estrela de todas as experiências que seguramente nos ficará na memória por muitos e bons anos. O Dunkelbar, ou Bar Escuro. Sim, é um Bar, mas está totalmente às escuras. Fica nas catacumbas do edifício, e está muito bem isolado com várias camadas de blackouts, não deixando passar qualquer réstia de luz nem quando se entra ou sai do espaço. Telemóveis, smart watches, e qualquer outra possível fonte de luz são estritamente proibidos no interior. Da entrada até nos sentarmos, vamos andando em fila indiana, com as mãos nos ombros uns dos outros, ouvindo alguém que nos vai dando indicações esquerda, direita, etc. Lá encontramos banquinhos livres à volta do bar e sentamo-nos. Podemos beber e comer... o que quisermos de um menu que nos é falado claro, ou pedir a "Uberraschung" (surpresa). Nesse caso, mais uma vez, somos desafiados a tentar descobrir o que estamos a beber ou a comer. Bebi um simples sumo de frutos vermelhos, mas acreditem que me pareceu a bebida mais exótica que alguma vez provei. Para pagar, ensinam-nos como identificar, apenas com o tacto, as várias notas e moedas de Euro (não se paga com cartão já que não se pode usar máquina). Verdadeiramente uma experiência espectacular! (PS. Mais tarde viémos a saber que todos os empregados deste Dunkelbar são invisuais).
Ao todo, estivemos cerca de 2 horas e meia até à hora de almoço. Infelizmente experienciámos apenas 2 dos 3 andares. Acordámos que voltaremos lá numa próxima oportunidade para acabar de ver tudo.
E assim saímos, revigorados e com todos os sentidos mais aguçados, dum espaço mágico, diferente e único, que recomendo a miúdos e graúdos!
Wiesbaden, Julho 2022
Cristina Semião(1)
(1) A autora escreve segundo o anterior acordo ortográfico