Reformar a velhice

Para alguns, a reforma significa nunca mais trabalhar ou sequer pensar no trabalho. Enquanto, para outros, se almeja uma vida de viagens, lazer e puro usufruto. Há quem fique ansioso à procura de uma nova forma de passar os seus dias e de fazer coisas que sejam, simultaneamente, úteis e gratificantes, mas é importante garantir que dispõe dos proventos e suporte para que tal aconteça. Considere, ainda na vida activa, os planos de reforma que o podem ajudar a complementar o seu rendimento à posteriori.

A reforma não tem de ser o fim de uma carreira profissional. Ainda se pode fazer o que se gosta e ser pago por isso, ou contribuir de forma gratuita e solidária. Tudo o que importa descobrir é exatamente, como gerir esta fase da nossa vida. E as soluções encontram-se, por vezes, tão perto de nós, que nem nos damos conta que existem.

Seja clarividente nas opções a considerar. Quem não procura estímulos e realizações, negligencia o que lhe faz bem. Encontrar um motivo para sair de casa é uma óptima maneira de dinamizar o seu dia, mas não tem de se juntar a um grupo, ou pagar uma aula para o fazer. Há muitos passatempos lá fora que podem levá-lo a vaguear pelo campo, passear pela praia, caminhar pela cidade, ou simplesmente, passear na sua varanda ou no jardim.

Listo apenas alguns exemplos do que pode fazer sozinho, ou em grupo: coleccionismo (selos, moedas, notas, outras); pesca; caminhada, ginásio, ciclismo, observação de aves e/ou animais, fotografia, recolha de conchas marinhas, investigações históricas, antiguidades, astronomia, camping, jardinagem, bonsai, vela, pintura, escrita, música, teatro, culinária, renda, meditação, etc…

Também pode renovar e intensificar relações de amizade que ficaram um tanto adormecidas com o correr dos anos. Os amigos são como flores no jardim da vida e a amizade precisa de ser "regada" para se manter viçosa. As pessoas nem sempre necessitam de conselhos, às vezes precisam apenas de quem as ouça, com quem possam partilhar ideias, de uma mão amiga, ou de um coração que os entenda.

Portugal é um dos melhores lugares do mundo para usufruir da sua reforma. Aproveite as oportunidades que estão ao seu dispor e que os estrangeiros tanto valorizam, nomeadamente: a natural cordialidade e simpatia das nossas gentes, um clima fantástico, paisagens deslumbrantes, uma enorme riqueza histórica e cultural, uma gastronomia rica e variada, uma hotelaria relativamente acessível, uma extensa e compreensiva rede viária.

Se se sentir inseguro, ou pouco disponível para estudar percursos e selecionar opções, viaje em grupo. Normalmente um passeio, abre-lhe os horizontes, expande-lhe o conhecimento, desenvolve interacções e conduz a novas iniciativas. Inscreva-se numa ou mais das múltiplas atividades à sua disposição. Enumere aquelas de que mais gosta e atribua-lhes prioridades (será difícil participar em todas ao mesmo tempo). Defina dois ou três objectivos que considere importantes para melhorar a sua qualidade de vida e cumprir os anseios de sempre.

A minha reforma tem-se norteado pelo princípio defendido por Agostinho da Silva: "deixar de viver para trabalhar e passar a viver para… viver!".

Planeie a sua reforma. Planear é muito importante para organizar as ideias, mesmo que venhamos a concretizar as coisas de maneira diferente, adaptando-as às circunstâncias do momento. Defina objectivos que lhe dêm gozo e que, sejam simultaneamente ambiciosos, mas atingíveis.

Cumpra-os e celebre. Defina outros e vá progredindo

Deixo-lhe o meu exemplo:

• Tirei a carta de Patrão Local;
• Apoio a uma instituição de Solidariedade Social;
• Realizei várias caminhadas, mormente a Santiago de Compostela;
• Jogo regularmente golfe e tenho procurado melhorar a minha performance;
• Promovo ou realizo uma reunião familiar pelo menos de 15 em 15 dias;
• Escrevi as minhas memórias e documentei-as fotograficamente;
• Estou em vias de as editar, bem como, um livro de crónicas;
• Estou a redigir um romance histórico;
• Monitorizo regularmente a minha saúde e a dos meus familiares;
• Converso muito com o meu vizinho da frente;
• Procuro viajar no nosso país e ao estrangeiro, pelo menos uma vez por ano.

Mande as velhas rotinas às urtigas.

A idade não tem de ser sinónima de velhice. Já basta que chamem assim à nossa pensão de reforma.

Reforme a sua velhice e viva!...

José Aleixo Dias, 21 Junho 2023 (1)

(1) O autor escreve seguindo o anterior acordo ortográfico