Quando o corpo te diz NÃO! Um testemunho na primeira pessoa

12-12-2024

Gosto de números pares, não sei porquê mas sempre gostei. Nasci num ano par e num dia par. Acho graça. E assim chegou 2024. Mais um ano par. Só que desta vez, logo em Janeiro, apareceram as primeiras dores no peito. 

Fui ao médico e fizeram alguns exames e nada. E as dores iam e vinham, voltaram em Fevereiro e de novo em Março. Desapareceram em Abril. Foi então em Maio que as dores ainda mais intensas foram acompanhadas de cansaço extremo. Subir o terceiro andar pelas escadas era uma tortura, os passeios com a cadela foram ficando cada vez mais curtos, e mais médicos e mais e mais exames. Nada.

E assim continuei até Outubro, quando decidimos, o meu marido e eu, fazer uma semana de férias para relaxar. E foi rápido, pois as dores tornaram-se tão insuportáveis que decidimos regressar, e logo no segundo dia. Conciliar voos e ligações, dois dias depois saía em direto do aeroporto para as urgências. E aí fiquei. Uma pericardite. O líquido que envolvia o coração era em tal quantidade que o pobre do coração já quase não conseguia bombear. Aquela viagem de avião de regresso podia ter sido a última, mas não foi. Não tinha de ser, era mesmo a vida, o corpo, a dizer Não! Assim não.

Hoje, já em casa, estou em tratamento, estou muito melhor e sei que o processo de recuperação é longo mas vou conseguir. Em 2025, um ano ímpar...

O corpo avisa-nos, no fundo o nosso corpo, na maior parte das situações, está preparado para nos curar, o que nos pede é que o oiçamos e mudemos alguma coisa, algo que nos está a provocar essa fragilidade, essa inflamação, essa doença... algo que não está bem.

Foi preciso esta chamada de atenção tão forte, tão no limite, para perceber que não podemos, e nem deveríamos querer, controlar tudo, há que deixar fluir. Que os outros, a quem enchemos de conselhos, por vezes têm mesmo de seguir o seu caminho e passar por situações que nós, porque tanto gostamos deles, gostaríamos de evitar. Que os tantos conselhos que damos aos outros deveríamos começar por os aplicar a nós mesmos. Que na grande maioria das vezes, os pensamentos negativos, que ocupam desnecessariamente o nosso cérebro e nos roubam tempo de vida, não se concretizam. E que as coisas que tantas vezes nos aborrecem, não têm realmente importância alguma.

Aprendi muito neste último mês. Hoje tenho de andar muito mais devagar, comer mais devagar, falar menos e não dar o dia seguinte como garantido. E a verdade é que esta nova forma de estar na vida é uma bênção. Andar mais devagar implica que vejo muito mais, cheiro mais, sinto mais. Falar menos implica ouvir mais e ter mais tempo para pensar na resposta, se é que há resposta, pois tantas vezes os outros apenas querem ser ouvidos, querem desabafar, deitar cá para fora, libertar-se, ter um ouvido amigo à sua espera.

Decidi partilhar esta história, real, convosco, à laia de presente de Natal. Porque os vossos ouvidos são amigos.

Quanto o corpo diz Não! É melhor ir ouvindo, deixar para trás o que passou e já não podemos modificar, deixar o futuro fluir e aproveitar o que temos realmente, o hoje, o presente.

Eu sei que passamos a vida a dizer isto, aos outros e a nós mesmos, mas o meu coração desta vez decidiu, se não paras, olha que eu posso parar!

Votos de um feliz Natal, de um ano de 2025 mais lento, a usufruir: a vida, a família; os amigos; e, como sempre costumo dizer, com umas boas gargalhadas a acompanhar.

Boas Festas, para todos vós, e para mim também.

Teresa Marques, Dezembro 2024

Nota 1: A ler um livro que o meu filho me acaba de oferecer "When de body says No" de Gabor Maté" - Quando o corpo te diz Não – a conexão entre o stress e a doença

Nota 2: Enorme gratidão aos meus filhos, meu marido, família e amigos que me acompanharam e acompanham nesta fase da minha vida.

Nota 3: E não se esqueça, nós na Transições, temos o propósito de "trabalhar" para uma vida mais saudável e feliz. Se não conhece o projeto vá ao site www.transicoes.pt, e saiba que se for para si importante, estamos à sua espera, não importa a idade ou a fase da vida em que se encontre, a verdade é que a vida é feita de transições.