Popularuchas tradições prescrecionais
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As tradições populares portuguesas são muito ricas e variadas sendo, certamente, a Chula, o Bailinho da Madeira, a festa do Vinho Verde, o Galo de Barcelos, o Pastel de Nata, ou as Farófias, muito melhor abordadas e descritas por terceiros do que pela minha pena, normalmente, critica e mordaz.
Da panóplia de possibilidades, a escolha que se me revelou mais óbvia seriam os alhos porros e os martelinhos nos festejos do São João, que me fazem lembrar a batalha das laranjas em Ivrea (de onde saí maltratado), ou famosa tomatina de Buñolas onde como "leão", prudentemente, nunca pus os calcantes.
Mas não! Ocorreu-me abordar pela originalidade, efeito cénico e enquadramento paisagístico, a Festa dos Tabuleiros em Tomar sugerindo, porém, algumas alterações.
Assim, em vez das encantadoras raparigas que garbosamente transportam à cabeça os famosos tabuleiros, poderia solicitar-se a colaboração dos funcionários judiciais que desfilariam com os caixotes de papelão onde repousam há anos processos judiciais que aguardam, tranquilamente, por uma muito conveniente prescrição.
Em vez de se realizar em Tomar, poderia este cortejo desfilar em redor da Assembleia da República, local ultimamente muito "in", porventura, com muito maior visibilidade e transparência.
Talvez a cultura da justiça ganhasse com isso. Talvez!
O folclore deste país não se limita a bailaricos, romarias ou ao Cante Alentejano. Há por aí muitos outros "artistas" cujo curricula deveria ser mais bem conhecido, e esses, nem deitam foguetes para o ar nem nada.
Voam baixinho!
José Aleixo Dias, Lisboa, 26 de Janeiro de 2025