Poesia # 8 - Um entusiasmo sempre à mão
Acordou e olhou para o relógio, já estava atrasada.
Olhou se ao espelho e viu os sinais da noite mal dormida.
Definitivamente, não podia sair assim.
Enfiou se no duche e lavou as mágoas com água quente e abundante.
Esfregou bem as dores desde os pés até à cabeça.
A cabeça era sempre a parte pior pois é onde se acumulam os passados mal resolvidos.
Saiu do banho e secou-se bem não fosse alguma lágrima se ter pegado ao corpo.
Abriu o armário e escolheu o seu vestido mais vistoso, para dar brilho e chama à existência.
Nos lábios pintou um sorriso.
Calçou umas botas de tacão grosso para poder sustentar o peso do dia que se avizinhava.
Atou um sonho ao chapéu e ajeitou-o o na cabeça.
Assim um pouco de lado como quem não quer pesar.
Ah, os chapéus com sonhos ficavam lhe mesmo a matar.
Olhou-se de novo ao espelho e sorriu satisfeita com a transformação.
Pegou nas chaves e saiu.
Já ia a descer as escadas quando se lembrou.
Voltou atrás e apanhou o entusiasmo que tinha deixado esquecido na mesa de entrada.
É que a vida é mesmo insuportável para quem não tem sempre à mão um entusiasmo.