Poesia # 38 - Uma poética da vida

30-07-2023


...e no dia seguinte ninguém nasceu.

A súbita interrupção da capacidade da espécie humana de crescer e se multiplicar fez despertar em várias mentes — inclusive naquelas que, até então, evitavam a todo custo pensar no assunto — reflexões sobre a morte. Pois se uma porta, a de entrada, havia sido subitamente fechada, a outra, a de saída, continuava escancarada. Para aquém e além dessas duas portas, abismos insondáveis.

Algumas dessas reflexões — que se tornavam cada vez mais frequentes e ostensivas — se atinham a rigores científicos; outras eram mais metafísicas e contemplativas, invocando, em certos casos, sentimentos religiosos. Não poucas enveredavam por meandros poéticos. Na produção literária abundaram versos que pintavam a vida como um caminho que contém várias bifurcações, mas nenhum retorno. Uma estrada de sentido único, sendo impossível entrar na contramão. Pode-se caminhar depressa ou devagar, mas não se pode parar. O tempo se encarrega de nos empurrar para frente, em direção ao inexorável fim da estrada.

Um conhecido poeta mexicano talhou o verso que correu o mundo pela internet e ficou famoso: "A vida, um relâmpago entre dois abismos".