Perdidos e achados
Nunca estamos preparados para perder alguém ou alguma coisa.
Normalmente as pessoas que amamos ou as coisas de que gostamos estão connosco, fazem parte do nosso pequeno Mundo, das nossas relações e com elas estabelecemos afectos, muitas vezes profundos.
A sensação de perda de alguém, causa sofrimento e faz-nos reflectir sobre a sua importância na nossa existência, na nossa formação e no nosso percurso de vida.
Faz hoje 25 anos que perdi o meu Pai.
Além de lhe dever a existência, ele foi central na formação da minha personalidade e um modelo de justeza, de trabalho, de dedicação familiar e de honestidade. Um companheiro do qual guardo muita saudade. Faleceu de uma doença grave e a sua morte não foi inesperada, mas quando partiu, foi o chão que desabou debaixo de mim.
Questionamo-nos muito nestas alturas e, de facto, só então avaliamos a falta que a pessoa em causa nos faz e o que podíamos ter feito diferente. Ficamos super-centrados em nós mesmos e apesar de tentarmos, é muito difícil esquecer. Apenas a tranquilidade de espírito nos liberta, apoiada pela família, os amigos e a felicidade de nos termos uns aos outros.
Outras vezes, porém, perdemo-nos a nós mesmos, porventura sem termos consciência disso. É como o coração que normalmente não se sente e, quando damos por ele, alguma coisa não está bem.
Vivemos em paz na Europa durante os últimos 77 anos e não demos por ela. Mas agora, com os conflitos no Leste, estamos a perceber a sua importância e o seu valor. É importante que se clarifiquem ideais e modos de vida, que se defendam princípios de convivência e de tolerância e que se reprimam excessos.
Onde foi que nos perdemos?
Nem todos os que procuram estão perdidos.
Alguns não se querem perder, mas já estão irremediavelmente perdidos e outros, que se acham completamente perdidos, nunca se encontraram. A insanidade encontra-os e abraça-os (Joni Baltar).
Dante Alighieri disse que: No Inferno os lugares mais quentes estão reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise. O amor e o coração nobre são uma única coisa.
Se se perdeu, procure encontrar-se.
Os paraísos perdidos estão somente em nós mesmos (Marcel Proust).
José Aleixo Dias (1)
(1) o autor escreve segundo o antigo acordo ortográfico