Pax et Bonum
Quando fomos a Santiago de Compostela, além da catedral, visitámos muitos outros monumentos como o Convento de S. Francisco. Os monges pertencentes à Ordem Franciscana saudavam-se dizendo a frase PAZ E BEM! Acho uma frase maravilhosa porque sintetiza o cerne da vida.
Seria tão bonito saudar assim em vez de dizer apenas um amorfo bom dia. Paz e bem! Provavelmente as pessoas ficariam espantadas, pensando que estávamos com os neurónios desligados ou que pertencíamos a alguma seita nova.
Todos os sítios visitados forneciam um documento carimbado e no verso deste há uma oração:
Que o amor seja luz de esperança no teu caminho.
Que a paz sobressaia no teu coração.
Que a bondade seja a tua marca nesta vida.
Que a fé seja a tua segurança frente ao mistério da vida.
E que quando chegue o momento de alcançar a meta, o AMOR te abrace eternamente.
Sê feliz, e faz felizes aos outros.
Há dias em que se sente o firmamento encoberto por nuvens, indiciando trovoada. E evolui para um negro breu. Acontece! Contudo e, com tudo, existe sempre a esperança de que brote a luz aquecendo a vida com o sol da esperança em dias melhores.
Há dias em que coração não tem paz. Contudo e, com tudo, a paz é um bem essencial e, sem ela, o coração não bate, não bombeia sangue arterial, só venoso.
Há dias em que uma pessoa está nervosa e deprimida, contudo e, com tudo, por fim nasce a harmonia, principalmente em frente ao mar.
Há dias em que nem sequer nos achamos bondosos. Contudo e, com tudo, a intenção é sempre boa, mas a comunicação tem, por vezes, muito ruído. A fé pode ser uma âncora, um porto de abrigo. Rezar, rezar muito para que o bem inunde o nosso coração. Pode haver segurança e esperança de redenção. Quando alcançamos a meta ansiamos tanto que o AMOR nos abrace!
Ninguém é perfeito! Somos pedras em bruto e há muito a cinzelar, a polir, a aperfeiçoar para transmitir beleza. Certamente, não almejamos ser uma Vénus de Milo ou um David de Miguel Ângelo. Poderíamos ser moldados por Degas! Far-nos-ia em bronze, bailarinos de ballet, sua paixão, e ficaríamos a dançar ao som da música de Serguei Prokofiev no bailado Flor de Pedra.
O poema de Ana Hatherly, escritora-pintora que muito admiro, sintetiza o que eu gostaria de saber escrever.
As palavras aproximam:
prendem-soltam
são montanhas de espuma
que se faz-desfaz
na areia da fala
Soltam freios
abrem clareiras no medo
fazem pausa na aflição
Ou então não:
matam
afogam
separam definitivamente
Amando muito muito
ficamos sem palavras (1)
Não existe felicidade constante e só se lhe dá valor quando não a temos.
E quando não a temos é que devemos lutar com coragem, garra, ter dente, não ficar impotente perante adversidade "NENHUMA! / A gente / só é dominada por essa gente / quando não sabe que é gente" (2)
E o meu desígnio é ser feliz e espalhar felicidade em meu redor.
Lurdes Aleixo
Fontes: (1) Ana Hatherly, in O Pavão Negro, 2003; (2) Um Calculador de Improbabilidades, 1980
Fotografia de Dulce Borges