Orgulho sem Preconceito
Um dia li, num blog da minha amiga Isabel, um texto sobre "As 50 coisas de que me orgulho" a que ela brilhantemente chamou "Orgulho sem Preconceito".
Pensei "50 Isabel? Um Top10zinho não chegava?".
Não, teria que ser mesmo 50. Ela é Psicóloga Junguiana e sabia porquê.
Mas o desafio estava lá e não resisti, tinha que tentar.
As primeiras saíram rápido, foi fácil, a seguir empastelei, e depois era capaz de não parar...
E porquê?
Porque primeiro se começa pelo mais óbvio: orgulho nos pais, orgulho nos filhos, na licenciatura, ..., coisas assim. Mas é quando se vai aos pequenos/grandes detalhes da vida, quando já vamos a meio da lista, diria eu, que as nossas cascas começam a sair, que deixamos de pensar no que fica ou não fica bem na fotografia, e que vamos ao essencial de nós mesmos.
E é surpreendente ver no final o que sai.
Este é claramente um exercício de autoestima e também um exercício de gratidão, um exercício que permite elevar os níveis de serotonina, a hormona da felicidade.
É também um exercício que permite ver, de uma forma clara, o que é verdadeiramente essencial para cada um de nós, mostrar o quanto somos capazes, e ajudar a encarar o futuro de outra maneira.
E o que tem tudo isto a ver com transições para a reforma?
Eu diria que tem tudo.
A reforma traz consigo muitas vezes a perda de referencial. Sobretudo porque durante anos nos definimos como seres que trabalham e até os nossos relacionamentos tendem a girar à volta do trabalho.
Só não sabe quem ainda não passou por isso, o estranho, para não dizer embaraçoso, que pode ser não ter cartão de visita. Querermo-nos apresentar a um grupo e não sabermos como.
Ter-mos vergonha de dizer "estou reformado". E perdemos a noção do EU.
O meu nome é Hélia Jorge e sou... sou o quê ?
Dizer que trabalhei na IBM tem tanto sentido como falar de Portugal nos dias de hoje referindo o tempo dos Descobrimentos.
E é aí, que se não nos encontramos neste novo Eu podemos ser esmagados pela angústia e depressão.
Mark Matousek tem um curso que se chama "Spiritual Awakening through Writing", "Acordar Espiritual através da Escrita". Nesse curso a primeira tarefa a que os alunos são convidados a realizar é escrever um texto sobre "Who am I?" "Quem sou eu?".
E a ideia é escrever tantas vezes quantas forem necessárias até chegarmos a nós mesmos.
Eu sou diretora da IBM, eu sou engenheira informática, eu sou casada com o Tomaz Pessanha, eu sou filha de António e Elvira Jorge, eu sou mãe do Vasco e do Miguel, ... Tudo isto é definir-me pelo meu papel não por aquilo que EU SOU.
E por isso fazer um exercício como o "as 50 coisas que me orgulho" ou o "Quem sou Eu" nos pode trazer de volta ao que realmente somos.
Podia partilhar aqui a minha lista, fiz isso no facebook nessa altura, mas o que escrevi só é relevante para mim.
Cada lista é única e não copiável, porque cada lista reflete o que somos mas, só por curiosidade, os meus dois últimos pontos foram:
"Orgulho de ter feito esta lista" e "Orgulho de não ter vergonha de a partilhar"
Hélia Jorge