Oração da beleza

(atenção: aviso aos meus amigos, o texto é longo)

Hoje amanheci cedo. Eram 7 da manhã já estava sentada ao computador, prontinha para ouvir a aula de Gregg Braden - "Os Códigos da Sabedoria".

Sou uma grande fã de Braden. Já vi imensas palestras suas, vi entrevistas, li livros, sigo-o no Instagram... De cada vez que o ouço ou que o leio, mesmo que o tema já me seja familiar, tenho um novo "insight", uma nova perspetiva sobre o tema.

Gregg Braden é um cientista com muitas valências, geólogo com formação em Biologia dos Oceanos, Física, Química, Matemática e Ciência da Computação que, a dada altura decidiu estudar as tradições indígenas e ancestrais, visitou lugares e pessoas que de alguma forma conseguiram manter algumas das suas tradições intactas à modernidade e desde então tem orientado o seu trabalho para o estudo da ligação entre ciência e espiritualidade.

Nesta aula, "Os Códigos de Sabedoria", Braden começa por nos lembrar que as crises que vivemos atualmente, ambientais, sociais ou outras não são novas.

Há muitos anos atrás os nossos ancestrais também sofreram problemas ambientais, anos de seca, também havia guerras (sempre houve guerras), problemas de saúde global (a peste sendo um dos exemplos).

Como lidaram os nossos ancestrais com estas crises?

É aqui que entram os Códigos de Sabedoria.

No seu contacto com estes povos de tradição indígena, Braden percebeu que usavam as palavras para ultrapassarem tempos difíceis, crises, tempos de incerteza.

Diferentes em cada cultura, essas palavras simples, mantras, orações eram, e ainda são, a forma como esses povos conseguem ver beleza na vida apesar das adversidades a que são sujeitos.

Essas palavras são os "Códigos de Sabedoria".

Braden relembra uma história de Madre Teresa de Calcutá.

A Madre Teresa recolhia as pessoas que estavam a morrer nas ruas imundas de Calcutá, lavava-as, limpava-lhes as feridas e vestia-as com uma veste branca para que pudessem partir com pureza e beleza. A Madre Teresa que conseguia ver numa flor que florescia numa bosta de vaca, a beleza de Calcutá num ambiente a todos os níveis degradado e degradante.

Um dos Códigos de Sabedoria de que Braden nos fala é a Oração da Beleza do povo Navajo que aqui transcrevo. Esta oração é pronunciada todas as manhãs pelos Índios Navajos dos E.U.A., antes de saírem para sua jornada diária.

Hoje Eu saio a caminhar

Hoje todo o mal me abandona

Serei tal como fui antes

Terei o corpo leve

E uma brisa fresca a percorrer o meu rosto

Hei de ser Feliz para sempre

Nada vai me impedir

Eu caminho com a Beleza à minha frente

Eu caminho com a Beleza atrás de mim

Eu caminho com a Beleza acima de mim

Eu caminho com a Beleza abaixo de mim

Eu caminho com a Beleza ao meu redor

Belas serão as minhas palavras

Esta oração do povo Navajo foi depois adaptada e simplificada por Shanto Begay, um artista plástico nativo americano.

A beleza que me rodeia

A beleza pela qual eu vivo

A beleza sobre a qual eu baseio a minha vida

São três simples e poderosas afirmações.

A beleza que me rodeia - Reconhecer que existe beleza em todo o lado mesmo no meio das situações mais difíceis.

A beleza pela qual eu vivo - é um convite para que eu permita que essa beleza faça parte da minha vida

A beleza sobre a qual eu baseio a minha vida - Reconhecer que a beleza é uma ferramenta poderosa, algo onde podemos centrar os nossos pensamentos e ações.

E Braden continuou a falar de muitas outras coisas como o facto de termos mais neurónios no coração do que no cérebro, da técnica de coerência cardíaca como forma de conexão, técnica que nos exemplificou,...

Depois desta aula, vieram-me à memória as perguntas que às vezes me faço:

Porque tiro fotografias? E porque as partilho?

Vaidade? Necessidade de conexão? Necessidade de reconhecimento?

A minha resposta tem sido - simplesmente porque me dá prazer!

Mas hoje, ao ouvir o Gregg Braden, reconheci que este simples acto de fotografar e partilhar é o meu "código de sabedoria", é a minha forma de observar e agradecer a beleza que me rodeia, interiorizar a beleza pela qual eu vivo e sobre a qual eu quero basear a minha vida.

Junto umas fotos minhas que tenho vindo a tirar e partilhar.

Muitas delas foram tiradas em períodos difíceis da minha vida, períodos de tristeza, desânimo ou desesperança, períodos de confusão. Foram fotos que me ajudaram a recentrar e que ainda hoje, quando as revejo, sinto, com gratidão, esse efeito compensador em mim.

Tenham um bom dia

e aproveitem para ver a beleza que vos rodeia, ela está aí!

Hélia Jorge

Monte do Peralinho

11 de Maio de 2022

Fotografias de Hélia Jorge