O Tempo Profundo
Assentamos os nossos pés na Terra mas, atrevo-me a afirmar, que sabemos pouco acerca do que se passa no seu interior.
A gravidade puxa-nos para o solo, porém, quando penetramos alguns metros numa caverna, ou descemos alguns pisos num elevador, podemos sentir-nos tragados por um ambiente estranho, quiçá claustrofóbico.
Existe uma quase natural aversão aos espaços subterrâneos, ao escuro, ao fechado. É no solo que se enterram os nossos entes queridos, se escondem tesouros e se vertem resíduos.
Descer ao profundo parece ser contrário à nossa inclinação natural de busca da luz, de ar e de liberdade. Porém, há no subsolo muito para descobrir.
O mundo subterrâneo é vital para a nossa existência, bem como para as nossas memórias.
O recuo dos glaciares está a revelar-nos estruturas, monumentos, florestas e até cadáveres de homens e animais.
O Tempo Profundo é a cronologia do mundo subterrâneo que não se mede em anos mas, em eras e éons.
"Quando observadas na perspectiva do Tempo Profundo coisas que pareciam inertes ganham vida. O gelo quebra-se. As rochas sofrem marés. As montanhas vazam e enchem-se. A pedra pulsa" (1)
Também no mar o nosso conhecimento é ainda escasso sobre a fauna e flora a grandes profundidades.
Mergulhamos até 3 ou 4 metros sem grande problema e sobretudo em fundos claros. Porém, se o fundo for escuro ou a profundidade maior, já temos a sensação que estamos a entrar num mundo mais exclusivo que nos impõe respeito e aguça a curiosidade.
Quem não leu as 20.000 Léguas Submarinas de Júlio Verne ? Ou não se espantou com os filmes e séries da National Geographic sobre as profundezas oceânicas?
O nosso presente e futuro dependem muito dos recursos existentes no subsolo e no mar. Tudo o que possamos fazer para melhor os conhecer, vai levar-nos naturalmente a assumir uma posição forte e activa em sua defesa e preservação para as gerações futuras.
A descida a estes "mundos" pode ser um movimento em relação à revelação.
Marque a sua viagem!
Não precisa de teste ao Covid nem nada!...
- O Mundo Subterrâneo - Robert Macfarlane, Editora Elsinore, 2021
(leitura sugerida)
José Aleixo Dias [1]
[1] O autor escreve segundo o antigo Acordo Ortográfico