O Runaldo, a Chéquia, Nederlandeses e Moldovos
A língua portuguesa é muito rica, mas há sempre quem a queira "desenvolver", mormente à custa de termos e vocábulos de tradução deficiente, ou reflectindo apenas desconhecimento do próprio idioma.
Nuno Pacheco, em artigos que escreveu no Jornal Público a 6/07/2014 e 4/07/2015 referia que: "o português é a língua mais rica elástica do planeta". Celebravam-se então os 800 anos do nosso idioma.
Citou Saramago que em 6 de Julho de 2014 nos lembrou que "cada vez usamos menos palavras", sublinhando também que: "a riqueza conquistada pelo tempo nas expressões da fala ou literárias têm vindo a fazer um caminho inverso, empobrecendo".
Como se nos esperasse um futuro em que um grunhir monossilábico viesse substituir a comunicação oral humana. Temos uma língua rica num país pobre. Uma língua que se dá ao luxo de empobrecer.
Nos últimos anos têm sido os brasileirismos (o Aluguel, Vamos nessa! Né?); ou os múltiplos inglesismos, (Fotobox, Big Brother, Black Friday ou os Influencers).
Mas agora surgem-nos o "Então" a torto e a direito, os Nederlandeses (que antes eram Holandeses), os Moldovos (que antes eram Moldavos) e até o Quatar, passou a Katar ou Catar, conforme a frequência que se sintonize.
Depois temos aquelas preciosidades telejornálicas de como a polícia "interviu" usando gás lacrimogéneo.
O Ronaldo também passou a Runaldo e brevemente, com as transmissões do Campeonato do Mundo de futebol, estou seguro de que a elasticidade do nosso imaginário vai expandir-se exponencialmente.
Na minha prática de medicina farmacêutica já tinha encontrado algumas traduções técnicas hilariantes, como: intestinal constipation (obstipação intestinal) ser traduzido por constipação intestinal; ou o VEV - Volume de Ejecção Ventricular, ser apelidado de Volume de Ejaculação Ventricular.
Enfim!...saberes.
Lagos, 05 de Outubro de 2022
José Aleixo Dias (1)
(1) o autor escreve segundo o anterior acordo ortográfico