O que posso dizer dos meus homens que já transitaram?

O meu Marido trabalhou desde muito cedo e parou aos 60 anos. Não teve qualquer dificuldade em "virar" reformado, enquanto eu ainda trabalhei por vários anos. Ler o jornal, ver as notícias, dormir a sua sesta a seguir ao almoço, estar com os amigos durante a manhã, ir almoçar com eles pelo menos 1 vez por semana fazer a sua ginástica no final da tarde é a sua rotina, que segue sem qualquer problema nem nenhum arrependimento. Não se queixa de inatividade, antes pelo contrário, considera-se suficientemente bem ocupado e vive absolutamente tranquilo com isso. Hoje tem 74 anos.

Já o meu Pai trabalhou por conta própria quase até aos 80 anos, mesmo enquanto manteve um hobby: fazer barcos em madeira ou qualquer outra peça de utilidade em madeira, e quando deixou definitivamente de trabalhar o seu hobby foi impulsionado, e para além dos barquinhos de madeira começou a fazer Pinóquios inspirando-se num que lhe trouxe de uma viagem que fiz à República Checa, e modificou e recuperou várias outras peças em madeira que precisavam de novas pinturas, por exemplo.

Nunca o vi desanimado por ter deixado a sua atividade profissional, nem aborrecido por trabalhar sozinho embrenhado nas suas criações em madeira. Hoje tem 92 anos.

A vida é feita de diversas fases, a da reforma, que é por norma associada à velhice, não é o fim da linha, é o começo de uma nova fase. Mais complicada? Sim! Não tenhamos ilusões, cada um tem de lidar com uma nova realidade encontrar um propósito diferente para o seu dia a dia, mas há um sentimento de independência e de liberdade que sabe tão bem …

Fazer o que se quer, à hora que se quer, conhecer o que antes não nos chegava por falta de tempo, e a oportunidade de finalmente lidarmos apenas com as nossas escolhas.

E digo mais complicada porque a mente é desafiada para outros e novos horizontes, com os quais começa a interagir cada dia. Até com o parceiro (a) que vive connosco em casa há vários anos teremos de alinhar um ritmo e forma de estar comum e confortável aos dois. Um desafio, acompanhado às vezes de alguns resmungos que também fazem parte da transição.

O tempo de vida que decorre desde a reforma até ao fim da vida pode ser longo, quase idêntico ao que experienciamos desde o dia em que nascemos até que nos casarmos, havendo saúde claro, por isso mesmo é preciso aproveitá-lo da melhor forma, aproximando-nos da família e dos amigos com quem melhor nos identificamos e manter uma mente positiva. Haja alegria!! Coragem homens e procurem o propósito de vida que vos faça felizes.

Ana Paula Calvinho, Junho 2023.