O que é ser velho

21-07-2021


"O que é que é ser velho?", pergunta Miguel Sousa Tavares a Agostinho da Silva numa entrevista em 1988. Agostinho da Silva tinha então 82 anos.

Nunca pensei que a sua resposta pudesse ser tão atual, mais de 30 anos depois.

Ser velho para Agostinho da Silva possui três pontos de vista: o tempo, a utilidade e a vida.

"O tempo é relativo porque 82 anos em 1000 não é o mesmo do que em 100 anos. Por isso, comparado com a história da presença humana, cada um de nós é um fenómeno recente. Depois, a perspetiva de futuro do planeta é ainda mais interessante. Pois, para o futuro, não nascemos enquanto esse não fizer parte do nosso presente. Só envelhecemos no tempo se a visão do mesmo for curta".

Filosófico, como comentou Miguel Sousa Tavares? Talvez!

Pelo que, o primeiro convite de Agostinho da Silva é alargar o nosso ponto de vista sobre a idade que temos a uma noção ampla de tempo.

Do ponto de vista da utilidade, Agostinho da Silva relembra:

"Quando se diz que uma coisa está velha, seja uma pessoa, seja um pano, seja uma mesa, o que se refere é ao tempo de serviço que ela durou"

e acrescenta

"Porque temos a mania, nesta cultura, que felizmente está acabando, que a vida se fez para trabalhar, que a vida se fez para prestar serviço, e não que a vida apenas se fez para viver...

mas a sociedade vai mudar..."

Será que 30 anos depois, temos menos pessoas que vivem para trabalhar, menos pessoas que fazem do trabalho a sua razão de viver? Será que a sociedade está a mudar como vaticinava Agostinho da Silva?

O que queremos da nossa vida? É o terceiro ponto de Agostinho da Silva.

"A maior parte das pessoas foi educada apenas para o trabalho, todas as nossas escolas educam para isso. Então, quando a pessoa sente que já não está na idade do trabalho começa a não ter nada que fazer e o tempo livre cai sobre ela, esmaga-a."

"Mas se a pessoa tivesse sido educada, ou por natureza fosse apaixonado pela vida, nunca se sentiria velho para coisa nenhuma."

Precisamos de uma nova atitude mental?

O tempo livre precisa de ser vivido com mais sabedoria?

Precisamos encontrar ou reencontrar a paixão pela vida?

Não tenho as respostas, terei quanto muito as minhas respostas, mas vale a pena pensar nisto!

Hélia Jorge