O papel do Mindfulness na gestão das emoções

14-03-2025

As emoções são as cores da nossa experiência humana, tingindo cada momento com matizes de alegria, medo, raiva ou serenidade. Atravessamos a vida imersos nesse oceano emocional, muitas vezes sem mapa ou compasso. São como as marés do oceano, sempre mudando, sempre fluindo e surgem dentro de nós como ondas, algumas suaves e refrescantes, outras revoltas e ameaçadoras.

Todas as emoções são importantes, e por isso, o objetivo não é evitá-las ou controlá-las, mas sim estar presente para elas, com abertura, curiosidade e compaixão. O Mindfulness é essa qualidade de presença que nos permite testemunhar e habitar plenamente a experiência emocional sem sermos arrastados por ela. Quando nos permitimos sentir sem resistência, sem pressa de tratar ou modificar o que está presente, descobrimos um espaço interior de vastidão e liberdade.

Muitas vezes, enfrentamos as nossas emoções com medo ou resistência, como se fossemos afundar nelas caso nos permitíssemos sentir completamente. Mas quando nos ancoramos no presente, na simples sensação da respiração a entrar e a sair do corpo, algo muda. Criamos espaço para a emoção existir sem que ela nos defina. Descobrimos que mesmo as emoções mais intensas têm um ciclo natural: surgem, atingem um pico e então dissipam-se. Nada é permanente e nisso reside uma sabedoria profunda.

A prática de mindfulness convida-nos a cultivar essa relação mais gentil e aberta com as nossas emoções. Podemos perceber a tristeza sem sermos engolidos por ela, sentir a raiva sem agir impulsivamente, reconhecer a alegria sem o medo de que ela desapareça. Esse estado de presença não é um estado distante e inatingível, mas algo que podemos treinar em cada momento da vida cotidiana. A beber uma chávena de chá, a ouvir o som do vento, a sentir o calor do sol na pele, estamos a treinar essa capacidade de estar presentes para o que é, sem lutar contra a realidade do momento.

A ciência mostra-nos que essa prática não muda apenas a nossa perceção, mas também reconfigura o nosso cérebro. Estudos revelam que a meditação mindfulness fortalece áreas associadas à regulação emocional e reduz a atividade das regiões ligadas ao stress e à reatividade. Mais do que um exercício cerebral, a prática de mindfulness é uma forma de estar vivo, de estar desperto para a beleza e a complexidade do que significa ser humano.

No entanto, é fundamental reconhecer que algumas emoções persistem por mais tempo, moldando o nosso estado de ânimo e afetando a forma como nos relacionamos com o mundo. Nem todas as emoções podem ser simplesmente "observadas" e deixadas ir. Algumas carregam feridas profundas, traumas ou padrões de sofrimento que exigem um cuidado mais especializado. Nesses casos, o mindfulness pode ser uma ferramenta valiosa, mas não substitui a necessidade de apoio profissional. Terapias especializadas, como a terapia cognitivo-comportamental, a psicoterapia e outras abordagens terapêuticas, podem oferecer um suporte essencial para quem enfrenta estados emocionais mais persistentes e desafiadores.

Ainda assim, mesmo diante dessas emoções mais duradouras e desafiadoras, a prática de mindfulness pode oferecer um refúgio e um ponto de ancoragem. A capacidade de estar presente, de cultivar a compaixão por si mesmo e de aprender a reconhecer as emoções sem se identificar totalmente com elas, pode ser um complemento essencial ao trabalho terapêutico. O mindfulness não é uma solução rápida ou um atalho para evitar o sofrimento, mas sim um convite para um relacionamento mais profundo e consciente com a nossa própria humanidade.

Vanda de Sousa, fevereiro 2025