Musicando 4

24-09-2022

Ai! Falta a Música Folclórica!

Quando eu andava no liceu, pertenci a um rancho. Como as raparigas estavam separadas dos rapazes, calhou-me um pastor.

Foi um sufoco! Fui obrigada a vestir um traje de surrobeco, um tecido áspero feito com lã de carneiro - até sinto comichão!.

Mas o pior está para vir - para suportar as "intempéries do palco", levava uma palhoça de palha centeia. Penso que dançámos o malhão, porém, eu mal conseguia mexer-me e, a certa altura, caiu a palhoça, uma colega tropeçou nela e caímos as duas para gáudio da plateia em gargalhada geral. Tempos juvenis!

O folclore tem um efeito integrador da diáspora lusa. Nos ranchos há sempre crianças a fim de repassar a tradição às gerações seguintes.

O rancho é possuidor de vários trajes de trabalho como: malhador, mulher da eira, homem da rega, mulher da ceifa, vendedores, moleiros, trajes domingueiros, de casamento e outros, bem como ferramentas e objetos utilizados nos trabalhos rurais. As suas danças, sempre de roda, são de trabalho, romaria e de terreiro.

Os instrumentos musicais tocados nos eventos são elementos fundamentais nas danças portuguesas, pois o ritmo das passadas é ditado pelo ritmo da música. Podemos citar exemplos de instrumentos utilizados nessas ocasiões, como por exemplo, os membranofones, instrumentos de percussão tipicamente lusitanos. Também estão presentes instrumentos de corda, como a viola toeira (também conhecida como viola de Coimbra) e a braguinha, uma espécie de cavaquinho originário da Ilha da Madeira.

Adorava ouvir o meu tio Zé a tocar banjo! Tem um som invulgar. Acho que ele tocava num rancho da minha aldeia, Vildemoinhos. Ainda existe! A D. Isabel, uma das cuidadoras da minha mãe, canta lá e faz imensas digressões. Uma artista!

Os cantores são elementos fundamentais para a composição das passadas das danças portuguesas. Com uma vocalização característica, as mulheres num tom muito agudo, a roçar o esganiçado, as melodias andam lado a lado com os passos da dança.

Além do Malhão, as danças mais populares são o Vira, a Chula, o Corridinho, o Fandango, o Bailinho da Madeira e a Chamarrita dos Açores. Esqueci-me dos Pauliteiros de Miranda - fabulosos!

Como agora estou em Lagos, vou referir apenas o Corridinho.


Rancho Folclórico e Etnográfico de Odiáxere

O Rancho Folclórico e Etnográfico de Odiáxere foi fundado em 1984. Odiáxere é uma vila rural, pertencente ao concelho de Lagos, a 6 km desta centenária cidade e tem como sua padroeira Nossa Senhora da Conceição. O Rancho Folclórico de Odiáxere continua com a sua recolha etnográfica de danças, cantares, trajes e utensílios agrícolas. Com base neste trabalho, divulga os usos e costumes da sua terra.

De Lagos, apenas encontrei referência num blog intitulado "musicafigosemedronho" que achei muito divertido. O autor, Armindo Gaspar, escreve que "(...) Em primeira mão era tocado por duas ou três gaitas (harmónicas) e os seus tocadores diziam e com razão que o corridinho vinha do fado. Também penso que sim. É evidente que o fado corrido tem a ver com corridinho, não só nas palavras como na forma. O corridinho que corre em outros sítios é também escrito em 2/4 mas é mais valsejado, talvez influências do vira e da chula.

Fica no entanto a certeza que a dança é de facto algarvia.

O repicado, o rebatido e a escovinha são coisas da gente do Algarve."


https://www.youtube.com/watch?v=LXY4V87h6KY&t=29s


E assim termino, acreditando no Senhor Armindo, com um Corridinho Malandreco da sua autoria.


o corridinho

deve ser ligeirinho

e também atrevidinho

pr' as moças animar


voam as saias

e as blusas de cabraia

côr do campo mar ou praia

nunca param de rodar


entra a escovinha

e a roda miudinha

anda cá moça qu'és minha

faz miar o meu tareco


e é nas fogueiras

que há desfolhadas brejeiras

algarvias brincadeiras

corridinho malandreco bis


refrão

óh zé

aperta-me nos teus braços

tem cuidado co's meus laços

que me estás a aleijar


maria

eu não te deixo fugir

à igreja quero ir

para contigo casar


MAS ... há opiniões mais derrotistas.

Porque, como afirma Jorge Dias, "(...) Nós, portugueses, estamos não nas vésperas, mas em plena fase de perdermos toda essa riqueza do passado. Se não corrermos rapidamente a salvar o que resta, seremos amargamente acusados pelos vindouros, pelo crime indesculpável de ter deixado perder o nosso património tradicional, dando mostras de absoluta incúria e ignorância. Se não o fizermos, daqui a duas gerações podemos ser um povo descaracterizado e profundamente pobre (...)", Folclore.PT - O Portal do Folclore Português, ponto de encontro dos Folcloristas!

Maria de Lurdes Aleixo Dias


A fotografia deste artigo lembra quatro pares do Rancho Folclórico de Lagos dançando o corridinho.

O Sr. da esquerda era o José Gaspar (meu pai) fundador do grupo e um Senhor que a cidade de Lagos esqueceu.


Fontes: https://moraremportugal.com/quais-sao-as-dancas-tipicas-de-portugal/ ; https://www.dancastipicas.com/dancas/dancas-portuguesas/ ; https://www.musorbis.com/viseu-e-o-seu-folclore/ ; https://grupodancascantares.wixsite.com/casaldorato/etnografia; https://www.musorbis.com/lagos-e-o-seu-folclore/; https://musicafigosemedronho.blogspot.com/2007/07/o-corridinho-algarvio.html