José Lopes de Araújo
Pelo terceiro aniversário da Transições
Um mundo novo
A vida é feita de transições. Transição de criança para jovem e depois de jovem para adulto. Transição da vida de estudante para a vida profissional, transição de solteiro para casado, para pai e mais tarde para avô.
Na vida profissional a transição para o primeiro emprego, depois a transição para sucessivos desafios profissionais, a necessidade de nos prepararmos para a adaptação constante a novos ambientes e a novos métodos de trabalho. A cada Transição corresponde um novo processo de adaptação a uma diferente fase da vida ou da profissão.
Mas na verdade ainda são poucos os que se preparam com tempo para a transição da vida ativa profissional para a vida de reformado ou aposentado e consequente adaptação aquilo que corresponde inegável e incontornavelmente, a última fase da nossa vida. Com efeito e graças aos avanços da medicina, esta fase pode constituir mesmo umas décadas, com todo o tempo do mundo livre, por mais tempo que na verdade se perca em cada vez mais regulares idas a médicos e aos consequentes exames clínicos.
Trabalhei quarenta e sete anos (comecei a trabalhar com apenas dezoito anos).
Sempre foi minha convicção que deixaria logo de trabalhar, quando o meu rendimento na reforma fosse idêntico ao da vida ativa. Dito de outro modo, sempre entendi que a vida não foi feita para trabalhar. Entendi sempre o trabalho como parte da nossa realização e satisfação pessoal e como uma forma de contribuirmos mesmo modestamente, para fazer a diferença na vida dos nossos concidadãos e melhorar a sociedade onde estamos inseridos. Mas o homem não existe apenas para trabalhar. Existe sim para ser feliz. Feliz na família, feliz consigo próprio, feliz na relação com os outros. O trabalho é apenas uma parte diminuta da nossa existência.
Se assim não o entendermos, convencemo-nos de uma certa e falsa indispensabilidade e prolongamos esse esforço que representa trabalhar, pelo que o tempo vai passando ou esgota-se, sem que possamos fazer dele outras e muitas coisas que nos podem tornar muito mais felizes.
Daí que tenha pedido para deixar de trabalhar um ano e meio antes da idade legal de reforma, logo que a premissa da estabilidade financeira foi assegurada, com o tempo de serviço e de descontos nas várias atividades profissionais que tive ao longo da vida.
Mesmo assim o choque para uma nova realidade foi inevitável. Recordo-me do primeiro mês da minha reforma quando recebi a pensão e o seguro de poupança que fizera e de ter ficado preocupado, porque me estavam a pagar sem trabalhar…
Seguiu-se o silêncio progressivo do telemóvel e a caixa de correio vazia quando os emails foram rareando, sendo substituídos por spam com publicidade a cuidados de saúde, casas de veraneio e cruzeiros para idosos.
A Transições a que em boa hora aderi por convite da minha amiga Teresa Marques, ajudou-me a compreender este novo e estranho processo do desligamento e da abertura de espírito a outras atividades, outros conhecimentos e a outros prazeres.
Todo um desconhecido mundo novo.
Parabéns à Transições pelo seu terceiro aniversário!
Lopes
de Araújo
Lisboa, abril de 2024