Hortas verticais

02-09-2021

O processo de escrita, como todos sabem, começa quando nos sentamos a uma mesa qualquer, com um papel (atualmente é mais um dispositivo digital), para expressar as nossas ideias. Chegados aqui vem a parte mais difícil. As ideias são tantas que encontrar um funil para as organizar pode ser angustiante. O título? O meu propósito era (é) falar de agricultura dita em modo biológico, termo que prefiro substituir por agricultura sustentável, com se diz em outras línguas. Todavia não vamos virar agricultores, estou certo. Por isso resolvi atribuir um título - Hortas Verticais - para falar de todo o tipo de germinações de plantas em qualquer espaço, sejam telhados, varandas, vasos, paredes, jardins ou hortas propriamente ditas. O propósito da designação é convocar as pessoas a pensarem em hortas de forma diferente.

No entanto, antes disso, penso que devo apresentar-me e falar do meu processo de reforma. Afinal já sou um veterano dela. Aconteceu-me em 2003. Apesar de já estar a pensar nela antes, a empresa, a IBM, já iniciara há muito os processos de rescisão, decidi que os três ou quatro meses seguintes seriam de total "dolce far niente". Foi importante para limpar a cabeça das rotinas.

Quase sem dar por ela, instalou-se em mim a ideia que precisava de fazer algo absorvente que substituísse e fizesse esquecer a atividade profissional. Depressa concluí que acabar a licenciatura que tinha iniciado como trabalhador estudante, mas nunca concluíra, era a minha melhor opção. Tive sorte, inscrevi-me ao abrigo da lei para maiores de 23 anos, e a turma era constituída metade por jovens na idade escolar e a outra metade por pessoas com idades gradativas até à minha. Como o ramo da licenciatura que escolhi foi o da informática, pude competir saudavelmente com todos eles, acrescentando mais umas amizades para a vida.

Da experiência da licenciatura reiterei a importância e a mais-valia da interação entre idades, sobretudo quando prosseguimos em objetivos comuns. E, não menos importante, não era mais um "IBMer", memória que passou para o capítulo das boas recordações.

De entre as várias atividades e associações a que me dedico saliento a cofundação da AMTS - Associação Movimento Terra Solta, porque foi na sequência da licenciatura e porque é aquela que mais próxima está do tema que pretendo falar. Na verdade, foi um processo muito interessante. Juntámos um grupo de nove pessoas e fomos a várias Juntas de Freguesia do Porto, pedindo a cedência de um terreno que pudéssemos cultivar em comunidade, tipo quinta pedagógica. Fomos bem sucedidos com a Junta de Freguesia de Campanhã. Tinha um terreno à nossa medida. O que restava de uma antiga quinta com um solar (Quinta do conde de Vila Meã), que fora destruída na sua maior parte pelas linhas de comboio e vias rápidas e estava abandonada servindo de depósito de todos os desperdícios.

Dela fizemos a horta da foto.

Fernando Guedes Pinto