Graça Raposo
Com a tia-avó
Meditação a dois
Os frutos da vida
Sem elos intergeracionais...não posso viver !
Os laços intergeracionais vão na minha vida muito além do círculo familiar.
Foi com a minha avó materna que aprendi, ao nascer, a conviver com todas as gerações. Na casa dos Olivais, juntavam-se pessoas de todas as idades e de várias famílias.
A minha avó Emília criou-me e, mais tarde, fez da infância da minha primeira filha um sonho cantado.
Foi a pessoa mais moderna que conheci. Nasceu no século XIX, e sem ter formação académica, acompanhou-me sempre na evolução das ideias e das tecnologias.
Ensinou-me que, como escreveu Séneca, "de qualquer sitio podemos chegar ao céu !"
Viveu até ao fim connosco. Achava a minha geração terrível...mas até à última gota de vida, quis fazer parte dela.
Muito da minha maneira de ser, herdei da minha avó.
Com humildade e com a determinação que lhe pertencia, partilhei – e continuo a partilhar - com os meus filhos, netas, sobrinhos e muitos jovens que passaram por casa quando vieram para Paris estudar ou visitar, a grande aventura da vida : as suas alegrias e momentos de felicidade intensa, as tristezas e as doenças, as experiências, os saberes, as emoções, os bens materiais...até ao convívio com a morte que a minha avó me ensinou a viver.
Hoje, os meus filhos, os sobrinhos e amigos que criei, ou acompanhei, para uma entrada feliz na idade adulta, chegaram aos 40 anos.
Há muitos anos que deixaram o nosso colo sem nunca se afastarem do coração. Caíram dos nossos ombros para ficar de pé, ao nosso lado.
Deixo-me levar pelas mãos deles, palpo as suas energias, a vivacidade e inteligência com as quais absorvem a modernidade deste mundo, cada vez mais complexo.
Como a minha avó, não sei viver sem elos intergeracionais. E, num eterno recomeço, encontro na geração seguinte as forças para continuar a colher os frutos da vida.