Encarar o Futuro (seja ele qual for) com Confiança
Sou daqueles que acredita que o Futuro não se herda, constrói-se. Bem sei que o ponto de partida pode influenciar, mas não pode ser fator determinante. Todos conhecemos exemplos de enorme capacidade de resiliência e confiança, com superação de dificuldades económicas, sociais e familiares, que levam à construção de futuros absolutamente admiráveis por parte de pessoas que, à partida, estavam destinadas ao fracasso. Infelizmente, também conhecemos pessoas que tinham tudo para terem futuros brilhantes e que nunca os alcançam. Apesar de terem tido acesso a excelentes colégios e universidades, e de terem crescido em ambientes sócio-económicos propensos ao sucesso, acabam por não conseguir construir um futuro de felicidade e prosperidade.
Da mesma forma que me alegro e inspiro pelos que conseguem superar as dificuldades e desvantagens com que se deparam à partida, entristece-me o sofrimento que as outras situações causam aos próprios e aos outros. Acredito, todavia, que a forma como encaramos o Futuro pode influenciar o nosso destino. Se encaro o Futuro como um dado adquirido ou com desesperança, arrisco-me a ficar à mercê de fatores que não controlo. Mas, pelo contrário, se encaro o Futuro com confiança e se me esforço e se me empenho verdadeiramente em construí-lo com a minha cabeça, o meu coração e as minhas mãos poderei ser construtor da minha própria vida e da dos outros.
É assim que vejo o Projeto TRANSIÇÕES de que tive a honra de ser convidado a participar antes ainda do seu arranque formal. O projeto TRANSIÇÕES desafia-nos a construir o nosso próprio Futuro. Numa fase da vida em que as pessoas se veem confrontadas com novos desafios profissionais ou com a falta deles ou, pura e simplesmente, que se aproximam da idade da reforma, o projeto TRANSIÇÕES dá ferramentas e redes para a construir o futuro.
Acredito que a forma como encaramos qualquer transição pode tornar-nos mais vulneráveis ou mais fortes. A opção está em deixar-nos aprisionar pelas condições de desvantagem que nos pesam à partida ou acreditar em nós mesmos e pôr mãos à obra. No caso específico da transição para a reforma, há amarras que não nos deixam partir e há pesos que não nos deixam voar:
- Com 50 anos já ninguém me dá emprego;
- Fiz isto a vida toda, não é agora que vou mudar;
- Já estou velho e cansado para sonhar;
- Burro velho não aprende línguas;
- A reforma é a antecâmara do fim;
- Agora que me vou reformar, deixo de ser relevante;
- Porquê preocupar-me já com a reforma, quando ela chegar logo se vê...
Quem assim pensa, fica refém do que o Futuro lhe reservar; pode ser bom, mas pode ser péssimo!
Já quem está disposto a colocar mãos à obra, em qualquer fase da sua vida e em quaisquer circunstâncias, torna-se construtor do seu Futuro:
- Fiquei desempregado aos 50 anos, mas não é o fim;
- Basta de desculpas. É agora ou nunca que tenho que ter a coragem de me desinstalar;
- Quanto mais envelheço, mais livre me sinto para sonhar;
- É impressionante o que aprendi nos últimos anos. Agora que fiz 65 anos tenho que pensar o que quero aprender de novo;
- A reforma é tempo de cuidar de mim e dos outros;
- Agora que não estou preso a uma agenda diária cheia de tarefas enfadonhas e problemas que me exaurem física e psicologicamente, consigo finalmente dedicar tempo de qualidade para ajudar os outros;
- Ainda tenho 15 anos antes de me reformar, mas quero começar a ter uma ideia muito clara do que quero fazer quando lá chegar.
Os mesmos desafios e as mesmas limitações à partida podem gerar distintos futuros. Esta forma de pensar pode fazer toda a diferença. A reforma é um bom exemplo porque normalmente é vista como uma fragilidade intrínseca (o envelhecimento) ou uma fragilidade extrínseca (a fragilidade da nossa posição na organização, quando estão em causa processos de reestruturação, pré-reformas ou reformas antecipadas). Mas não tem que ser necessariamente assim. A reforma, como qualquer outra transição, pode (deve) ser vista como mais um passo na construção do nosso Futuro. Para tal, é necessário libertar-nos de crenças limitadoras e preparar a reforma como o projeto mais importante da nossa vida.
A reforma deve ser vista, e preparada, como o nosso primeiro emprego; isto é, deve-nos fazer ter dúvidas e questionar, deve fazer-nos aquela comichão na barriga como quando fomos à nossa primeira entrevista de emprego, deve entusiasmar-nos e fazer-nos sonhar como no nosso primeiro dia no primeiro emprego. A reforma e a transição para a reforma devem fazer-nos encarar o Futuro (seja ele qual for) com Confiança!
Que Futuro? O nosso Futuro e o daqueles que nos rodeiam, a começar pelos mais frágeis e pelos que mais necessitam de nós e são tantos...
Que Confiança? A confiança da nossa razão e da nossa intuição.
Diogo Alarcão