Em nome da Rosa
Em nome da Rosa escrevo por gostar de contos cor de rosa. A rosa flor é um ser de suporte agreste e transcendente de beleza. Dir-se-á que o que é belo tem que se proteger: a rosa protege-se, mas não o suficiente. Está visto que nada se protege o suficiente. A cadeia de seres que suplantam outros seres é contínua. Entre espécies e na espécie.
Rosa pode ser flor e pode ser nome de pessoa, e cor e forma, e estou a referir o que me lembro. Há formas que não são rosas, mas lembram-nos as rosas, por exemplo as rosas do deserto, que são rochas formadas nos desertos quentes.
A primeira vez que vi uma rosa do deserto foi a que uma amiga trouxe da Tunísia, ainda a Tunísia não era um destino turístico, e mais tarde, veio outra que fez o par, já na senda das excursões, esta da Argélia. Agora já são três: a argelina dividiu-se. Então tenho três rosas do deserto de tamanhos e tons diferentes. Em nome da Rosa, há muitos tons cor de rosa, e não só, há rosas do deserto negras, e flores e pessoas, e contos negros. Suponho que seja uma concentração tão densa da cor, que ficam negras para o olho humano (eu disse que aprecio contos cor de rosa).
O que sei das rosas do deserto é que são frágeis, quebradiças, composta por areia e outros minerais que não sei quais. É isto: sejam as rosas cristais do deserto, flores de caule espinhoso ou nome de pessoa, são frágeis, delicadas…mas à cautela, em nome da Rosa, é melhor não facilitar. Fiquei a saber que as rosas do deserto, além da parecença com a rosa flor, também têm "espinhos" ao ponto de poderem furar os pneus de uma viatura. É a Rosa!
A minha avó paterna tinha no quintal canteiros de rosas, das mais comuns às mais raras. Tinha um especial cuidado com elas, dedicava-lhes muito do seu tempo e eram afamadas. Mais tarde, um dos seus netos também fez um campo de roseiras pela boa memória que a avó lhe deixou. Enquanto os invernos foram chuvosos e os verões passados a jardinar parecia um tapete matizado visto do alto ou de longe. Mas a rosa das pessoas com ou sem nome de rosa tem espinhos e arranjar quem as tratasse nas ausências foi um pneu rebentado.
Tanto quanto me lembro, apenas conheci uma pessoa com o nome de Rosa. Mas conheci inúmeras pessoas que se picaram ao colherem rosas, tal como eu. Como tudo na vida, é preciso saber fazer com sentimento. Sem sentimento os espinhos são agressão, com sentimento são proteção. Viver com sentimento o que fazemos em nome da Rosa dá a dimensão da transcendência de que nos sustentamos.
Li algures sobre o livro "O nome da Rosa" que "nome da rosa" foi uma expressão usada na idade média para denotar o infinito poder das palavras. Não sei se está correto, mas agrada-me e, como já referi, gosto de contos com cor da Rosa.
Alexandra Carvalho
Cascais, 27 de julho de 2023