Eles, do ponto de vista de uma mulher

11-07-2023

Começo com uma verdade de La Palisse: todos iremos nos reformar, a não ser que não cheguemos à data. E, se assim for, acho que não é nada bom para começar.

Também partilho da opinião, felizmente que só muito, muito raramente me acontece ter este pensamento, que ser velho é uma chatice. E que acompanharmos os nossos Pais na velhice nem sempre é o espelho para o qual gostaríamos de olhar.

Dito isto, desta vez é sobretudo para "eles" – os homens - que escrevo, porque dizem os livros e tenho verificado na prática, os homens normalmente fogem do tema e não aproveitam a vantagem que poderá ser preparar a transição para a reforma.

Na minha opinião há três motivos principais, vou generalizar, sabemos que há sempre exceções, e a pensar naqueles que nasceram no final dos anos 50 e início da década de 60 diria: esta geração de homens tem mais dificuldade em partilhar as suas emoções; foram "programados" para ser o sustento da casa – trabalhar e ganhar dinheiro; têm principalmente como amigos os seus colegas de trabalho; normalmente não têm hobbies, isto porque – dito por um grande amigo meu – têm uma capacidade (mais difícil de encontrar nas mulheres), que é estar sem fazer nada, sem se aborrecerem.

Relativamente a este último aspeto confesso que tenho, muitas vezes, verdadeira inveja de não ter essa capacidade e, ainda, somos nós mulheres que muitas vezes aborrecemos os homens quando estão nesse "dolce fare niente" ao insistirmos que têm mesmo de ir fazer alguma coisa, e sugestões para nós não nos faltam, como todos reconhecerão. E porque fazemos isso? Bom para lembrar que, nos dias de hoje, a probabilidade de ter praticamente mais um terço da nossa vida para viver é muito alta. E vamos querer passar trinta anos a "sofazar" (palavra minha para os amantes de sofá)?

Ora a reforma, pode e deve ser vivida, e tanto melhor quando bem preparada, para ser uma nova fase da vida em que, finalmente, podemos fazer aquilo que gostamos e ainda não tivemos oportunidade para isso.

Para promover uma reforma positiva nasceu a Transições – www.transicoes.pt – porque para muitos transitar para a reforma pode ser difícil se não a prepararmos. Na Transições escrevemos sobre o tema, partilhamos sucessos e dificuldades, alertamos para fases mais complexas e desenvolvemos atividades para que sejamos pessoas ativas, saudáveis e felizes.

É urgente que mais homens pensem no assunto e se juntem a nós, às mulheres (sobretudo as "cara metade" agradecem), pois não há nada mais complexo do que ter de lidar com a sua própria transição e reforma e ainda com a do outro que vive connosco, agora 24h sobre 24h, o que se pode revelar, e por vezes temos de nos esforçar para isso, uma agradável surpresa.

Reformada há cinco anos, sei que há vida para além do trabalho, amigos para além dos do trabalho, e também um monte de coisas que se descobrem como verdadeiramente interessantes, agradáveis de fazer, ser, e que finalmente temos tempo de lhes dar uma oportunidade.

Teresa Marques, Junho 2023.


Um comentário e sobretudo uma partilha, relativamente a este artigo, que transcrevemos:

Prezada Teresa,

Inteiramente de acordo com o que você diz no parágrafo derradeiro. Sim, é claro que há vida para além do trabalho. Aliás eu sempre tive vida para além do trabalho, ao contrário de vários colegas meus que, sem o trabalho, não tinham o que fazer. Sempre cultivei atividades alheias a meu trabalho. As leituras, a escrita, a música, o gosto pelo teatro e tantas outras coisas. Houve um tempo em que eu fazia tapeçarias, atividade que me proporcionava um prazeiroso relaxamento mental. É bem verdade que por vezes o trabalho consumia todo meu tempo. Mas agora, aposentado há três anos, posso me dedicar àquelas atividades em tempo integral, além de cultivar novas amizades (como o grupo da Transições) e ver, com gosto, o desenvolvimento profissional de meus filhos (o mais velho já passou dos 40) e acompanhar as novas atividades de minha amada companheira, que também se aposentou e agora virou tecelã. Ela tece peças lindas e é com enorme gosto que acompanho a produção e as exposições que ela realiza. Nunca fui muito amigo do dolce far niente nem de "sofazar".

Abraços a todos.

João Solano, 12 de Julho