Dessalinização é uma opção?
A dessalinização é uma
alternativa viável para a obtenção de água potável em regiões onde a água doce
é escassa ou não está disponível em quantidades suficientes para atender às
necessidades da população. A dessalinização permite a utilização de fontes alternativas
de água, como a água do mar ou a água salobra de aquíferos, após a remoção do
sal e dos minerais dissolvidos, tornando-a adequada para consumo humano e
outros usos.
A dessalinização é o processo de remoção de sais e minerais dissolvidos na água, tornando-a adequada para uso humano ou industrial. A água salgada ou salobra, como a água do mar ou a água salina de aquíferos, é tratada para reduzir a concentração de sais, tornando-a potável ou adequada para outros fins, como irrigação agrícola.
Existem diferentes métodos de dessalinização, sendo os mais comuns a osmose inversa e a destilação.
Na osmose inversa, a água salgada é forçada a passar por uma membrana semipermeável que retém os sais, permitindo que apenas a água pura passe. Esse processo requer pressurização da água salgada para superar a pressão osmótica e produzir água doce.
Na destilação, a água salgada é aquecida para vaporizar a água e, em seguida, o vapor é resfriado e condensado, separando-a dos sais. Esse método requer altos níveis de energia para aquecer a água e é frequentemente combinado com outras tecnologias para melhorar a eficiência energética.
Ambos os processos de dessalinização exigem um tratamento prévio da água para remover partículas sólidas, como sedimentos e algas, e outros contaminantes antes de serem submetidos ao processo de dessalinização propriamente dito.
A dessalinização tem sido amplamente utilizada em regiões costeiras e áreas onde a água doce é escassa. No entanto é importante considerar os custos energéticos, ambientais e económicos associados a esse processo.
Embora a dessalinização seja uma solução viável para a escassez de água, é importante considerar que o processo de dessalinização consome muita energia e pode ser caro. Além disso, a disposição adequada dos resíduos salinos resultantes do processo é um desafio ambiental a ser enfrentado. Portanto, a dessalinização deve ser vista como parte de uma abordagem integrada de gestão de recursos hídricos, juntamente com a conservação da água, o uso eficiente e a protecção dos ecossistemas aquáticos.
Existem várias tecnologias utilizadas para a dessalinização da água. As principais são:
Osmose Inversa: É o método mais comum e amplamente utilizado. Consiste em forçar a
água salgada a passar por uma membrana semipermeável que retém os sais e
permite que apenas a água pura passe. É necessário aplicar alta pressão na água
salgada para superar a pressão osmótica e separar a água doce dos sais.
Destilação: A destilação envolve o aquecimento da água salgada para vaporizá-la,
separando a água pura dos sais e minerais. O vapor é então arrefecido e
condensado para produzir água doce. Existem várias técnicas de destilação,
incluindo destilação de múltiplos estágios, destilação flash, destilação a
vácuo e destilação solar.
Electrodiálise Inversa: Nesse processo, a água salgada é passada entre uma série de membranas electroquímicas
que retêm os iões de sal e permitem a passagem da água pura. A aplicação de uma
corrente eléctrica facilita a separação dos iões, permitindo a obtenção de água
doce.
Evaporação Solar: Essa técnica utiliza a energia solar para aquecer a água salgada e induzir a evaporação. O vapor de água é então condensado e colectado como água doce. É uma abordagem de baixa tecnologia e adequada para regiões com alta disponibilidade de luz solar.
Membranas de Troca Iónica: Nesse método, as membranas de troca iónica são usadas para remover iões
de sal específicos da água salgada, permitindo a obtenção de água doce. É um
processo menos comum em comparação com a osmose inversa ou a destilação.
Essas tecnologias podem ser combinadas ou adaptadas de acordo com as condições locais, disponibilidade de recursos, procura de água e restrições energéticas. A escolha da tecnologia depende de vários factores, como custo, eficiência, disponibilidade de energia, qualidade da água de entrada e procura de água doce.
As energias renováveis desempenham um papel importante na dessalinização, pois ajudam a reduzir os custos operacionais, mitigar o impacto ambiental e tornar o processo mais sustentável.
O custo de 1 metro cúbico (m³) de água dessalinizada pode variar significativamente dependendo de vários factores, como a tecnologia de dessalinização utilizada, a localização geográfica da central de dessalinização, o custo da energia eléctrica ou dos combustíveis, a dimensão da central e os custos operacionais associados.
De maneira geral, o custo médio de produção de água dessalinizada pode variar entre 1,0€ a 2,5€ por metro cúbico, na produção (nós pagamos, na nossa torneira, cerca de 1,5€ por metro cúbico).
É importante mencionar que o custo da água dessalinizada tende a ser mais alto do que o custo da água proveniente de outras fontes, como a água doce de rios ou aquíferos, devido principalmente aos altos custos energéticos envolvidos no processo de dessalinização. Por essa razão, a dessalinização geralmente é considerada como uma alternativa para situações em que outras fontes de água são limitadas ou não estão disponíveis.
Além disso, é crucial considerar também os custos adicionais, como os investimentos iniciais na construção da central de dessalinização, os custos de manutenção e operação ao longo do tempo, e os custos da rejeição adequado do concentrado salino resultante do processo.
Algumas vantagens da dessalinização como alternativa à água potável:
Fonte de água adicional: A dessalinização permite diversificar as fontes de água disponíveis, aumentando a segurança hídrica em regiões propensas a secas ou com recursos hídricos limitados.
Disponibilidade em regiões costeiras: Muitas áreas costeiras enfrentam escassez de água doce, mas têm fácil acesso à água do mar. A dessalinização fornece uma opção valiosa para tornar essa água adequada para consumo.
Qualidade da água: A água dessalinizada é geralmente de alta qualidade e livre de impurezas, minerais indesejados e contaminantes, tornando-a uma fonte segura e confiável de água potável.
Flexibilidade de aplicação: A dessalinização pode ser usada em várias escalas, desde sistemas domésticos até grandes "usinas" de dessalinização, adaptando-se às necessidades específicas de cada comunidade ou região.
Algumas desvantagens da dessalinização como alternativa à água potável:
Elevado custo energético: O processo de dessalinização requer uma quantidade considerável de energia, especialmente na tecnologia de osmose inversa, que é a mais comum. Isto pode tornar a dessalinização uma opção cara em comparação com outras fontes de água doce, especialmente em regiões onde a energia é cara.
Impacto ambiental: A rejeição do concentrado salino resultante do processo de dessalinização pode representar um desafio ambiental significativo. Se não for tratado e descartado adequadamente, o concentrado salino pode causar danos aos ecossistemas aquáticos e à vida marinha.
Sustentabilidade hídrica: A dessalinização, por si só, não resolve o problema da escassez de água. A dependência exclusiva da dessalinização pode levar ao uso insustentável dos recursos hídricos e à sobre-exploração de fontes de água do mar.
Dependência de tecnologia: A dessalinização requer tecnologia avançada e mão de obra especializada para operar e manter os sistemas. A dependência excessiva dessa tecnologia pode ser um obstáculo em áreas com recursos limitados ou falta de capacidade técnica.
Emissões de gases de efeito estufa: Devido ao alto consumo de energia, a dessalinização pode levar a maiores emissões de gases de efeito estufa.
Interacção com ecossistemas marinhos: A captação de água do mar para a dessalinização e o descarte do concentrado salino podem afectar ecossistemas marinhos, especialmente se não forem tomadas medidas adequadas de mitigação.
E em Portugal ?
A dessalinização é uma alternativa viável para a obtenção de água potável em regiões onde a água doce é escassa ou não está disponível em quantidades suficientes para atender às necessidades da população.
É o caso do Porto Santo (até agora único em Portugal) com a sua já quarentona Central Dessalinizadora do Porto Santo, localizada junto ao cais da Vila Baleira e é a única origem de água potável utilizada para abastecimento público na ilha, sendo esta produzida a partir da água do mar por intermédio de unidades de dessalinização por osmose inversa.
Os recursos hídricos do Porto Santo limitavam-se a algumas origens de água natural de baixos caudais, algo relacionado com a fraca precipitação característica da ilha. Por volta de 1970, estas origens começavam a não ser suficientes para satisfazer as necessidades, além de não garantirem a qualidade para consumo humano.
Dentro das diferentes opções, a solução por Osmose Inversa, algo inovador nos finais da década de 70, era a que oferecia as melhores garantias de futuro em termos de manutenção e nos custos de exploração, tendo entrado em funcionamento em 1980. É uma das 5 unidades industriais em todo o mundo e a primeira na Europa a utilizar este tipo de tecnologia.
Após várias alterações e aumento de capacidade ao longo dos anos, a Central passou a ter uma capacidade de produção anual de cerca de 2,4 Mm3.
Recursos hídricos de Portugal.
Os recursos hídricos no nosso país são abundantes e nos anos húmidos temos quantidades excessivas de água das chuvas que ocorrem no nosso território. O problema é que grande parte dessa água é desperdiçada e não é aproveitada.
Portugal não tem falta de água doce, Portugal tem falta de vontade em executar uma adequada e eficiente gestão dos recursos hídricos com o conveniente aproveitamento e retenção das águas das chuvas e dos cursos de água que percorrem o nosso território. Um exemplo, excepcional, da gestão que devia ser repetida no nosso território é o projecto do Alqueva.
Cascais, 26 de Julho de 2023
João de Jesus Ferreira
O autor escreve, por opção pessoal, de acordo com a antiga ortografia.