Desafio escondido
"A depressão é o problema de saúde pública número um, no mundo"
- David D. Burns, Stanford University School of Medicine
É triste mas é uma realidade: A reforma não corre bem para toda a gente.
Pessoas com carreiras brilhantes falham, de forma inesperada, a sua nova vida como reformados. Por vezes desesperados, lutando contra uma perda de identidade que os acompanha e que parecem não conseguir ultrapassar.
Uma história real e bem perto de mim. Médico, toda a vida! Desde que me lembro a medicina foi tudo para si. Só doentes, famílias de doentes, estudo de casos dos doentes, sempre à procura de soluções, de alívio, de bem-estar dos doentes.
Os seus amigos, outros médicos. A família bem cuidada, mas longe, e garantidamente assegurada pela sua Mulher.
E um dia chegaram os 70 anos e teve de deixar o hospital. E pouco depois o consultório; pois muitos outros colegas foram aparecendo, mais jovens, com teorias mais modernas, apesar de nem sempre certas, e os doentes foram desaparecendo.
E um dia, aos 80, deixou tudo. Perdido, continuava a exigir que o tratassem por doutor, fosse onde fosse.
Zangado, quando no hospital já não o conheciam. "Mas não sabe quem eu sou? Fui eu que fundei este serviço, fui eu que utilizei esta técnica pela primeira vez, que descobri a cura para esse caso!".
E foram anos e anos de zanga, de tristeza, de depressão. Afinal quem era, agora que não trabalhava?
Hoje, com 94 anos, com uma boa saúde, com uma cabeça invejável, continua a acordar de manhã sem saber o que fazer. "E como passo o dia, agora que já não leio, não escrevo, não tenho forças para sair? O dia custa a passar, mas lá passa".
Quem está perto sabe que, com esforço pode ler, que basta ditar para um gravador que aparece escrito, e que os passeios à beira mar os pode fazer, devagar.
Mas o médico, continua triste, sem saber o que fazer, seguro de que tem um coração forte, que vai viver muitos anos, naquela tristeza. A reforma trouxe-lhe uma constante falta de propósito para viver, falta de expectativas de um melhor dia seguinte, falta de perspetiva de que nem todos têm o privilégio de chegar tão bem, física e mentalmente, a esta provecta idade. Triste e dramático para ele, triste e dramático para quem o rodeia.
Não tem de ser assim, temos exemplos fantásticos de como é possível sentir-se bem com a vida, lutando cada dia, por um dia mais realizado, feliz, saudável e que vale a pena viver. É verdade que a geração que hoje tem 80, 90 anos, não foi preparada para esta outra fase da vida, mas nós, com 50, 60, 70 anos...temos por obrigação pensar no assunto e prepararmo-nos para o enfrentar, de forma consciente não deixando para amanhã aquilo que sabemos que temos de ir acautelando hoje.
Este é o desafio escondido, e encorajamos cada um a pensar nas diferenças entre as duas formas de estar. Ver o copo meio cheio ou meio vazio: sabemos que a quantidade de água é a mesma. A escolha é sua!
Por mim, optei por uma vida de "copo cheio" e, quando acordo, agradeço a todos, e a quem de direito, mais um dia, inteirinho, para Viver!, mas não é fácil...por isso, na Transições alertamos para a necessidade de preparação para a nova etapa da vida. A preparação ajuda, comece já...nada a perder, eventualmente só a ganhar.
Se tiver dúvidas, se quiser conhecer melhor a nossa missão, o porquê de existirmos, e o porquê de tantas pessoas, de idades tão diferentes, se terem juntado à Transições, contacte-nos: geral@transicoes.pt e, um de nós, entrará em contacto consigo.
Se for o caso, até breve.
Teresa Marques