Convidados intensivos
Nesta passagem do ano tivemos cá em casa as nossas netas.
Depois do jantar intensamente vivido com a vontade comum de falarem simultaneamente para contarem as suas peripécias, seguiu-se aquele tempo da espera pelas 12 badaladas da meia-noite.
Traquinas e "eléctricas" como são, procurámos através de jogos tradicionais captar a sua atenção. Não foi fácil!...
Começámos pelo jogo do Mocho e saltámos rapidamente para as performances mímicas do "Gesto é tudo". De início procuravam passar todos os conceitos de forma tão apressada e breve, que nos perdíamos na interpretação desses sinais.
Depois criámos um processo: primeiro havia que deixar claro o domínio do que estava a abordar, depois a substância (objecto, pessoa, profissão, etc,,,) e só então se avançava para a sua caracterização. Se excluirmos a temática dos filmes e os seus títulos, em que os adultos se manifestaram claramente desactualizados, no restante encaixamo-nos relativamente bem.
Entusiasmaram-se tanto com a simbologia e descrição de personagens e seus trajes que gesticulavam animadamente, saltavam, rodopiavam e faziam passes de dança. Embora o repto fosse desafiante, passado algum tempo começaram a dar sinais de menor concentração, tendo então proposto que recitássemos alguns poemas.
- Alguém se lembra de um que queira partilhar?
Bom! Vieram logo à tona as obras de Augusto Gil, José Régio, Camões e António Aleixo, entre outros. Comentámos alguns deles para perceber até que ponto estes textos as sensibilizavam e o que retinham da sua história.
Daqui até criarem elas próprias os seus poemas, passando a declamá-los, foi um pulo. Estávamos fascinados a ver crianças de 10 e 11 anos como se num palco estivessem a tentar encontrar a rima e a métrica certas para cada estrofe.
Redigiram um lindíssimo poema sobre A Família e concluímos a noite a escrever umas quadras bem cómicas sobre o nosso cão (Joy). Só ligámos a televisão perto da meia-noite para, em conjunto, celebrarmos a entrada no Ano Novo.
Foi um Serão muito rico e intenso, sem filmes ou telemóveis a entrecortar os diálogos e de uma enorme riqueza e criatividade, que nos ficará na memória por algum tempo. As nossas netas estavam traquinas, reguilas, mas extremamente desinibidas e criativas. Julgo que todos aprendemos e divertimos com esta noite de passagem de ano.
Estas meninas representam o futuro e a esperança é uma coisa muito boa!
Lisboa, 31 de Dezembro de 2021
José Aleixo Dias (1)
(1) o autor escreve segundo o antigo acordo ortográfico