Colecionadora de memórias …
Quando era jovem fascinava-me os colecionadores, que magia era aquela que os impulsionava a adquirir, guardar objetos de uma só qualidade, de um só tipo e olhava os selos de muitas proveniências, as pagelas católicas de todos os santinhos, mais tarde os presépios de todo o mundo elaborados ou artesanais, ah, os Santo António de todas as cores e tamanhos, exibidos num orgulho como que de uma obra criadora se tratasse. E eu, olhava admirada, com uma pontinha de inveja "- Como gostaria de ser assim, e ter para meu deleite obras/objetos tão belos", mas o mais que consegui nas minhas tentativas foram meia dúzia de selos desgarrados, outros tantos pacotes de açúcar com dizeres e imagens sugestivas, e uma ou outra caderneta que tentei concluir e acabaram no lixo, incompletas e sem interesse.
Depois de muito refletir sobre o tema, concluí, olhando com verdade para dentro de mim, de que sou colecionadora, não de objetos da mesma espécie mas de memórias materializadas, plenas de estória e significado que preenchem o meu mundo de afetos: a concha que sempre vi sobre a cómoda revestida de cortiça da casa da minha avó; a caixa de fósforos, com os fósforos organizados como um puzzle cada um com sua letra a formar palavras; postais de amigas/os com palavras de afeto; a arquinha artesanal, do meu primeiro namorado; a agenda miniatura forrada com imagens de revista de 1969 ou a agenda de 1974 onde assinalei o dia da revolução...
Depois tenho e guardo com deleite vidros de todo o tipo e qualidade, uns antigos outros nem tanto.
Talvez colecione sem saber.
Maria Emília Lourenço, maio 2024