Brincar aprendendo
As crianças e adolescentes estão pouco habituados aos jogos tradicionais que marcaram a infância dos adultos, mas enfadam-se rapidamente e não convivem bem com algumas rotinas dos mesmos, talvez devido à diferença de estímulos a que estão habituados com o audiovisual, mormente, os videojogos.
Para lhes atrair a atenção e manter o espírito aberto é preciso planear em conjunto as actividades a desenvolver, "governando a nau", mas deixando-os discorrer sobre as melhores opções a tomar e eventual escolha das áreas de interesse.
A maioria, porém, gosta de desafios. De fazer coisas diferentes do habitual, de experimentar, o que é muito bom para sua aprendizagem da vida.
Na praia, para além dos castelos e habituais esculturas, também construíamos fornos de areia onde se abriam conquilhas e assavam pequenitos peixes apanhados no local, com anzol e minhoca por si recolhidas na baixa-mar, de que muito se orgulhavam.
Recordo-me igualmente de com eles fazer corridas de carochas (reais, daquelas negras que há nas dunas), num "carochódramo" de tipo romano (onde se digladiavam quadrigas), aberto na areia por um pé adulto e emoldurado por guerreiros de plástico e outras ramagens dunares. Nem imaginam a "clientela" que se juntava a ver!
Outra alternativa aliciante era a descoberta do tesouro (enterrado na areia) que se procurava mediante indicação de algumas balizas, dicas, ou enigmas que tinham de resolver. E finalmente, as manobras básicas de reanimação, que de tão realistas às vezes assustavam os veraneantes que corriam para nos ajudar. Creio que um dia se lembrarão disso.
Mas o desafio mais interessante e porventura mais difícil de concretizar, era o atravessar de uma piscina de dezoito metros numa jangada que teríamos de construir em quatro horas e que nos teria de transportar aos três, de um lado ao outro sem se virar.
O material disponível para o efeito era constituído por: caixas de cartão, vários metros de barras de madeira polida (para não aleijar), rolos de tela de plástico preto forte, com cerca de um metro largura, vários rolos de fita cola larga e uns quantos metros de corda.
O primeiro impulso das crianças era de imediato meter as mãos à obra, para o que se impunha realçar a importância do planeamento, da divisão de tarefas, da coordenação e do controlo do tempo a que estávamos obrigados. Eles lá se organizaram a contento, sobre o olhar atento de familiares e colegas.
No final, duas das três equipas conseguiram atravessar a piscina, cada qual com o seu próprio desenho e forma de construção.
Terminámos o dia com uma reflexão de como conseguir água doce a partir da salgada, numa hipotética jornada de jangada em mar aberto e claro, com um refrigerante fresquinho a selar o entardecer.
José Aleixo Dias. Lisboa, 11 de Novembro de 2023.