Biblioteca de Alexandria

14-11-2024

A Biblioteca de Alexandria, fundada por volta do século III a.C., foi um dos maiores e mais célebres centros do conhecimento do mundo antigo. Situada na cidade portuária de Alexandria, no Egipto, tornou-se um símbolo da busca pelo saber universal. Sob o patrocínio da dinastia Ptolemaica, particularmente de Ptolemeu I Sóter e Ptolemeu II Filadelfo.

O seu objectivo era reunir todo o conhecimento do mundo civilizado numa única instituição. Esta visão transformou a Biblioteca num ponto de referência crucial para o desenvolvimento do conhecimento científico, literário e filosófico.

A Biblioteca e o adjacente Museu de Alexandria (instituição religiosa e científica) reuniam estudiosos e pensadores de todo o mundo mediterrânico, numa época em que o saber científico, filosófico e literário era intensamente cultivado. Esta instituição foi um farol de erudição que teve um impacto profundo e duradouro no progresso científico da humanidade.

Recolha de Conhecimento Universal

A Biblioteca de Alexandria tinha como objectivo principal reunir todo o conhecimento do mundo conhecido. Textos de diversas civilizações, incluindo egípcios, gregos, persas, indianos e mesopotâmicos, foram copiados e arquivados. Acredita-se que a biblioteca contivesse centenas de milhares de pergaminhos que cobriam as mais variadas áreas do conhecimento, como matemática, astronomia, medicina, filosofia, geografia e engenharia.

Esta vasta colecção possibilitava aos estudiosos acesso a uma quantidade sem precedentes de informação, o que fomentou uma era de inovação e descoberta.

Desenvolvimento Científico

A Biblioteca de Alexandria foi um centro de excelência em investigação científica. Muitos dos maiores pensadores da Antiguidade ali trabalharam, contribuindo de forma significativa para o avanço das ciências.

A Biblioteca de Alexandria não era apenas uma colecção de livros, mas também um centro de investigação e ensino. Cientistas, filósofos, matemáticos, poetas e estudiosos de diversas áreas encontraram em Alexandria um espaço de livre debate e exploração intelectual. Alguns dos seus contributos mais importantes para o desenvolvimento do conhecimento científico, foram:

· Matemática e Geometria

A matemática foi uma das áreas que mais floresceu em Alexandria. Euclides, que trabalhou na cidade, produziu a obra Os Elementos, um dos textos mais influentes da história da matemática. Nesta obra, Euclides organizou e sistematizou os conhecimentos geométricos da época, que serviriam de base para a geometria por mais de dois milénios.

· Astronomia

A astronomia foi outra área de destaque em Alexandria. Hiparco, um dos primeiros astrónomos a usar a trigonometria para medir distâncias astronómicas, trabalhou na biblioteca. Outro astrónomo notável foi Eratóstenes, que calculou com grande precisão a circunferência da Terra através da observação das sombras projectadas em diferentes pontos do globo. Estes estudos contribuíram para a compreensão do cosmos e da posição da Terra no universo.

· Medicina e Anatomia

A Biblioteca de Alexandria foi também um centro de investigação médica. Herófilo e Erasístrato, médicos alexandrinos, foram pioneiros na dissecação de corpos humanos e na investigação sobre anatomia. Estes estudos deram origem a importantes avanços na compreensão do sistema nervoso e do funcionamento dos órgãos internos.

Difusão do Conhecimento e Intercâmbio Cultural

Além de ser um centro de investigação científica, a Biblioteca de Alexandria desempenhou um papel crucial na difusão do conhecimento. As suas vastas colecções e o influxo de académicos de várias regiões promoveram o intercâmbio de ideias e o diálogo entre diferentes culturas. Este ambiente cosmopolita permitiu que o conhecimento científico grego fosse ampliado e fundido com outras tradições intelectuais, como a egípcia e a babilónica.

Destruição, Declínio e Legado

O grande mistério em torno da destruição da Biblioteca de Alexandria reside na falta de registos contemporâneos claros e na multiplicidade de eventos que podem ter contribuído para o seu desaparecimento.

O incêndio da Biblioteca de Alexandria é um dos eventos mais enigmáticos e controversos da história antiga, envolto em mistério e incerteza. Embora seja comum associar a destruição da biblioteca a um grande incêndio, a verdade é que a queda da Biblioteca de Alexandria foi um processo mais gradual e provavelmente ocorreu em várias fases, envolvendo diferentes episódios de violência, abandono e catástrofe ao longo dos séculos.

Ao longo dos séculos, a biblioteca foi provavelmente vítima de uma série de desastres cumulativos, em vez de um único evento catastrófico.

É possível que:

  • Parte da biblioteca tenha sido destruída durante o cerco de César, embora não tenha sido completamente arruinada.
  • O declínio gradual da cidade e do Império Romano tenha levado à perda de importância e ao abandono da biblioteca.
  • Os ataques religiosos e políticos subsequentes tenham contribuído para a perda final dos seus conteúdos.

O declínio da Biblioteca de Alexandria começou com a perda de apoio político e financeiro da dinastia Ptolemaica e foi agravado por vários incidentes, como incêndios e saques ao longo dos séculos. Embora a biblioteca tenha sido destruída, o seu legado persiste. As ideias e os textos preservados em Alexandria foram transmitidos para outras regiões e, mais tarde, influenciaram o Renascimento e a revolução científica na Europa.

A Biblioteca de Alexandria foi um dos maiores centros de conhecimento da Antiguidade, e o seu impacto no desenvolvimento da ciência foi imenso. Ao reunir eruditos e promover a troca de ideias entre diferentes culturas, a biblioteca permitiu que avanços significativos fossem feitos em diversas áreas do conhecimento científico. Apesar da sua destruição, o seu legado perdura até aos dias de hoje como um símbolo da busca incessante pelo conhecimento e pelo progresso científico.

Hoje, a Biblioteca de Alexandrina não é a maior do mundo, mas é a referência do Egipto, além de ter maior colecção digital de manuscritos históricos. Esta foi construída em 2002 e também funciona como centro de estudos e pesquisa.

Embora a Biblioteca de Alexandria tenha desaparecido, o seu legado persiste como um símbolo de aspiração ao conhecimento universal e de tragédia pela perda de uma vasta herança intelectual. O mistério da sua destruição permanece um tema de fascínio para historiadores e estudiosos, reflectindo a fragilidade do conhecimento humano perante os desafios do tempo e das circunstâncias.

Cascais, 14 de Outubro de 2024

João de Jesus Ferreira[1]

[1] [MSc. Eng.º (IST)] - O autor escreve, por opção pessoal, de acordo com a antiga ortografia.