Acende uma vela

13-10-2021

"Don't curse the darkness light a candle"

Não amaldiçoes a escuridão, acende uma vela

Esta frase já foi atribuída a muitos autores desde Eleanor Roosevelt, Confúcio, William L. Watkinson, John F. Kennedy, Charles Schulz, provérbio chinês, ...

Embora eu goste sempre de saber a autoria e me incomode esta displicência e falta de rigor em atribuir falsas autorias de textos e frases, o importante aqui é a força da mensagem que esta frase encerra.

A maioria de nós, quando está perante alguma adversidade, foca a sua atenção em reclamar e só mais tarde em arranjar uma solução. Alguns nunca conseguem passar da fase da reclamação.

Não sei quem foi a pessoa na minha vida que me disse pela primeira vez "ou fazes parte da solução ou fazes parte do problema", o certo é que nunca mais me esqueci e tento nortear a minha vida por este princípio. Permito-me, claro, os meus 5 minutos de ódio, de irritação ou de frustração mas depois tem que ser "bola para a frente".

Aqui há uns meses soube de uma história que me deliciou e comoveu ao mesmo tempo e que deu uma nova luz a esta frase.

O meu professor Normax, Norman Maxfield, cuja história já escrevi aqui - https://www.transicoes.pt/l/nomax/ - e que foi a figura mais parecida que eu tive com um herói, faleceu em Julho deste ano, umas horas antes de completar os seus 99 anos.

Tive o privilégio de ser convidada para a sua cerimónia fúnebre que foi transmitida online, em direto, desde Inglaterra.

A cerimónia foi "à la Normax", foi como ele gostaria. Abriu e fechou com uma música jazz animada, a sua música preferida, e pelo meio teve vários testemunhos de familiares, filho, netos, e de alunos contando as histórias divertidas que se passaram com ele.

Uma dessas histórias, que com muita pena minha não se passou comigo, foi contada por uma das suas alunas. Contou ela que um dia, numa das suas aulas, o Normax pediu para os alunos entrarem numa sala completamente às escuras.

Quem era aluno do Normax não estranhava estas ideias, sabia que ele era criativo e irreverente e que isso fazia das suas aulas uma experiência sempre gratificante.

Depois de todos chegarem à sala, o Normax pôs um tema a debate. Não era um tema fácil, nunca era, era um tema polémico, era preciso pensar fora da caixa.

E às escuras os alunos foram trazendo as suas ideias "para a mesa".

De cada vez que alguém trazia uma ideia nova, o Normax acendia uma vela. Cada ideia nova, uma nova vela. Até que toda a sala se iluminou.

Cada aluno que viu a sua ideia iluminada por uma vela levou uma dose suplementar de dopamina, o neurotransmissor ligado ao prazer associado à recompensa.

Mas mais do que isso, cada aluno percebeu que cada um de nós pode fazer a diferença no mundo e, com o seu contributo, trazer luz à escuridão.

Confesso que ri e chorei nesse momento.

Ri porque a história ia acabando mal, ele ia pegando fogo à universidade 🙂 estes detalhes da segurança não são para mentes criativas.

Chorei de saudades pensando que foi um enorme privilégio ter conhecido o Normax, e que o mundo precisa de muitos Normax que nos mostrem que a luz está dentro de nós por mais escura que nos pareça a paisagem.

Hélia Jorge