A obsessão pelo pensamento positivo
Hoje tornou-se quase moda falar de pensamento positivo. A Psicologia Positiva trouxe-nos este conceito de que a felicidade se constrói, que é possível ver sempre o lado positivo das coisas e sair do estado de vitimização para sermos donos do nosso destino e atores da nossa vida.
Treinamos o perdão, a aceitação, a compaixão, e posso dizer que sou uma fervorosa aprendiz de tudo isto com muito esforço, mas também posso orgulhar-me com algum resultado.
Mas há um lado perverso em tudo isto, há uma confusão entre ter pensamento positivo e estar sempre alegre, sempre "zen". As estantes das livrarias enchem-se de livros de autoajuda que nos ensinam a estar, ou parecer estar, sempre neste estado mesmo quando o instinto nos puxa para o outro lado. "Fake it fake it until you make it", "Finge, Finge até ser verdade".
A vida é feita de tristezas e alegrias, de frustrações e de exaltações, de serenidade e de raiva, de perdas e de ganhos, ...
Negar estes estados em nós é negarmo-nos a nós próprios. Negar estes estados em nós, escondermos a nós e aos outros que temos momentos de tristeza, de frustração, de medo, de vergonha, de desespero, leva muitas vezes à criação de capas, de máscaras, que nos fazem afastarmo-nos de nós próprios e perder a nossa essência.
Às vezes, como dizia uma amiga minha no outro dia, é mesmo preciso partir um prato, chorar, gritar, dar umas murraças num saco de box.
Ao nos permitirmos essa tristeza, essa raiva, deixamos espaço para a compreensão, para a aceitação e para a ação, e só assim ultrapassar.
Estes sentimentos não positivos são o combustível para o nosso autoconhecimento e o nosso crescimento.
Sim, porque fugir não é libertar!
Hélia Jorge