A ilusão da Terra firme
O mundo é redondo e mexe-se.
Por isso, o solo que nos pode parecer estável, transforma-se num ápice em instável e aquilo que às vezes nos pode parecer o fim, é afinal o princípio.
Veja-se o que se passa em La Palma com as múltiplas erupções do vulcão Cumbre Vieja.
Esta velha montanha achou que seria a hora de fazer ouvir a sua voz, ainda a tempo para que os líderes mundiais reflectissem um pouco mais sobre o aquecimento global, sobre a exploração desenfreada dos recursos naturais, a destruição do coberto florestal e sobre a poluição dos mares e da atmosfera, na reunião que teve lugar esta semana na Escócia.
Aproveitando as dicas da toda poderosa China, imitou-a na conquista de terra ao mar, vomitando milhões de toneladas de lava quente que progressivamente lhe consolida os domínios.
O mito da Terra firme está aqui exposto à vista de todos.
Por vezes esquecemo-nos que vivemos num planeta coberto por uma crusta terrestre, mas com um núcleo de fogo; uma massa líquida incandescente que se move debaixo dos nossos pés e que, de quando em vez, quer vir "ver as vistas".
Algumas montanhas e cadeias montanhosas foram formadas a partir de actividades tectónicas, em que as placas terrestres chocaram entre si provocando a orogénese. Mas não é o caso do Cumbre Vieja, que resulta de erupções vulcânicas anteriores.
Umas e outras ilustram a dinâmica da nossa Terra.
Esquecemo-nos de que a estabilidade não existe. Que o dia a dia se processa na gestão do instável, no tornear de dificuldades, na antecipação de problemas e no encontrar de soluções.
Lá cima o vulcão vê o céu, o mar e os homens.
Vê a incoerência e o desdém e vai vomitando a sua ira.
Façamos algo em tempo útil para a acalmar.
Lisboa, 04 de Novembro de 2021
José Aleixo Dias(1)
(1) O autor escreve segundo o antigo acordo ortográfico