A Escrita Terapêutica e a gestão de emoções

O que são emoções e o que são sentimentos, Antes de entrar no tema propriamente dito, um convite para distinguir emoções e sentimentos. Muitas vezes usados como sinónimos, apresentam diferenças entre si, por vezes subtis, das quais aqui ficam 2 exemplos.
Relativamente ao funcionamento do cérebro, as emoções são inatas e ocorrem no sistema límbico. Por sua vez, os sentimentos têm origem em pensamentos abstratos e sucedem-se no lobo frontal.
Enquanto que as emoções são respostas automáticas químicas intensas e de curta duração, os sentimentos resultam em interpretações cerebrais de eventos e sensações que podem perdurar por períodos de tempo mais ou menos prologados.
Tomemos como exemplo o medo: uma pessoa pode sentir medo porque ouviu um estrondo inesperado, assustou-se e reagiu procurando proteger-se de um perigo iminente e imediato – exemplo de medo como emoção. Ou, numa situação extrema e hipotética, porque um dia uma pessoa ouviu um estrondo inesperado e sentiu um medo irracional por eventuais perigos incontroláveis, decidiu não voltar a sair de casa nunca mais – exemplo de medo como sentimento.
Feita a distinção, como é que a Escrita Terapêutica (ou Escritoterapia) pode ajudar a gerir emoções e sentimentos?
A Escrita Terapêutica é uma ferramenta eficaz para:
- explorar emoções intensas, por exemplo tristeza, raiva ou medo;
- libertar tensões emocionais reprimidas e promover alívio e clareza mental;
- estimular a introspeção, ajudando a identificar padrões de pensamento e comportamentos;
- promover uma visão mais positiva da vida através de técnicas específicas.
Que técnicas existem para reconhecer e gerir emoções através da Escrita Terapêutica?
Partindo do pressuposto que a Escrita Terapêutica não se destina apenas a quem sabe ou a quem gosta de escrever e que a mesma não tem quaisquer regras estéticas, formais ou gramaticais, estas são as técnicas disponíveis para expressar emoções:
- Escrita livre e fluída: consiste em deixar fluir as emoções de forma espontânea, sem julgamento e sem preocupações pelas palavas e pensamentos que surgem;
- Diários: manter um diário ajuda a transformar esta ferramenta terapêutica numa disciplina regular e eficaz, através do registo das aprendizagens, das reações e das reflexões dos acontecimentos vividos a cada dia;
- Cartas: no âmbito da Escrita Terapêutica as cartas não se destinam a ser enviadas; escritas para o próprio, para um familiar, para um personagem de ficção, entre muitos outros exemplos, as cartas ajudam a expressar emoções e sentimentos, identificar preocupações, materializar pensamentos e organizar ideias;
- Contos: procuram narrar acontecimentos marcantes vividos por quem os escreve e escritos na terceira pessoa; técnica para recriar os acontecimentos em perspetivas positivas que possam ser emocionalmente aceites pelo narrador;
- Entrevistas: trata-se de entrevistar o próprio Eu, nas perspetivas passada, presente e futura, o que ajuda a afirmar a personalidade; pode também entrevistar-se um familiar, um animal de estimação, uma emoção, entre muitos outros exemplos;
- Listas: sendo textos mais curtos, as listas permitem visualizar melhor aquilo em que se está a pensar ou aquilo que se está a sentir e são, por isso, uma forma eficaz de organizar pensamentos e emoções; o número de temas ou emoções que podem ser listados é apenas limitado pela imaginação.
Em resumo, ao escrever o que sentimos e o que pensamos materializamos no papel as nossas emoções, os nossos valores e os nossos padrões de crenças sobre nós próprios e sobre o que nos rodeia. Esta materialização permite dar início a um ciclo com resultados práticos na gestão emocional.
Ou seja, após escrever,
- torna-se mais fácil visualizar e identificar o que sentimos e o que pensamos;
- o que, por sua vez, permite refletir sobre as emoções sobre as quais escrevemos;
- dando oportunidade, por fim, para pôr em prática as estratégias mais adequadas para gerir os nossos estados emocionais e de pensamento.
No fundo, trata-se de uma questão de escolha: de escolher acolher uma prática terapêutica que nos pode trazer bem-estar emocional e de a transformar num exercício diário, e de escolher transformar as emoções que nos perturbam noutras emoções e sentimentos que nos proporcionem perspetivas de vida mais leves e positivas.
Uma recomendação final para entender um pouco melhor o que são as emoções e a respetiva gestão. É verdade que se trata de filmes, mas que tiveram, com toda a certeza, a escrita de um guião prévio que lhe serviu de base: Divertida-Mente!
São 2 filmes de animação – muito interessantes e úteis quer para miúdos quer para graúdos - dos estúdios Pixar, que retratam o que se passa na mente da protagonista, a pequena Riley Andersen, e como ela interage com as emoções alegria, tristeza, medo, raiva e nojo - no primeiro filme - e ansiedade, vergonha, inveja e tédio – na sequela.
Boas escritas! Boas emoções!
Cecília Azevedo, março 2025