A Captura e o Armazenamento do CO2
Independentemente de acreditarmos, ou não, nos efeitos humanos, sobre o clima, é de extrema importância a preservação do ambiente e o controlo sobre a degradação que a actividade humana induz no planeta Terra, em variadíssimas vertentes.
Assim, é óbvio que há necessidade de controlar e reduzir as emissões de poluentes, de GEEs[1], de CO2, entre outras medidas evidentes, por diversas e legítimas razões.
Contudo, no que respeita ao controlo das emissões de CO2, estas questões devem ser relativizadas sem exageros ou histerismos. Isto é, devem actuar principalmente os países e as regiões que mais contribuem para as concentrações de gases de efeito de estufa, que normalmente são os países mais ricos.
No caso das emissões de CO2, apenas 18 países contribuem com 80% destas emissões e Portugal não consta nesta lista.
- Portugal contribui com 0,14% para o total mundial das emissões, isto é, qualquer redução por muito significativa que seja em nada contribui para a redução total.
- A Europa (27) contribui com 8,30% para o total das emissões, isto é, qualquer redução por muito significativa que seja em muito pouco contribui para a redução total.
De realçar que o CO2 não é um poluente, mas sim um gás que é fundamental para a existência de vida na Terra, pois é um componente-chave do ciclo do carbono e é utilizado pelas plantas para realizar a fotossíntese e produzir oxigénio. No entanto, em altas concentrações, o CO2 pode contribuir para o efeito estufa.
Uma das tecnologias disponíveis para mitigar as emissões de CO2 é a sua captação e consequente armazenamento para utilização futura.
A utilização futura do CO2 armazenado pode variar dependendo do projecto específico e do contexto. No entanto, existem algumas opções comuns para a utilização do CO2 armazenado, como sejam:
- Armazenamento permanente: O CO2 pode ser armazenado permanentemente em reservatórios subterrâneos de forma segura e estável, reduzindo assim as emissões de gases de efeito estufa.
- Utilização em processos industriais: O CO2 capturado pode ser utilizado em processos industriais, como a produção de cimento. O CO2 pode ser utilizado como matéria-prima em processos químicos, como a produção de plásticos.
- Fertilizantes de culturas: O CO2 capturado pode ser utilizado para alimentar culturas em estufas e instalações agrícolas, aumentando a produção e reduzindo a necessidade de fertilizantes químicos.
- Produção de combustíveis sintéticos: O CO2 pode ser utilizado como matéria-prima na produção de combustíveis sintéticos, como o diesel e a gasolina sintética, reduzindo assim as emissões de gases de efeito estufa associadas à queima de combustíveis fósseis.
A captura de CO2 é um processo pelo qual o dióxido de carbono é removido da atmosfera e armazenado ou utilizado para outros fins. Existem várias tecnologias para captura de CO2, incluindo a captura directa do ar, a captura em processos industriais e a captura em centrais de produção de energia eléctrica que queimam combustíveis fósseis.
A captura de CO2 é uma área de investigação em rápido desenvolvimento, com a finalidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa. No entanto, a tecnologia de captura de CO2 ainda enfrenta desafios técnicos e económicos, incluindo a redução de custos e a melhoria da eficiência do processo.
O CO2, após capturado, é transportado e armazenado em locais geologicamente seguros. Existem diversas tecnologias para o armazenamento de CO2, incluindo o armazenamento em reservatórios subterrâneos de petróleo e gás esgotados, aquíferos salinos profundos e formações geológicas de basalto.
O armazenamento de CO2 pode trazer várias vantagens, como sejam:
- Redução das emissões de gases de efeito estufa: O armazenamento de CO2 pode ajudar a reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
- Uso de tecnologias existentes: O armazenamento de CO2 pode ser implementado utilizando tecnologias que já estão disponíveis e amplamente utilizadas em outros sectores, como a indústria de petróleo e gás.
- Criação de empregos: A implementação de projectos de armazenamento de CO2 pode criar empregos em áreas como a engenharia, geologia e monitorização ambiental.
- Possibilidade de geração de receita: O armazenamento de CO2 em reservatórios geológicos pode gerar receita através de créditos de carbono e outros mecanismos de compensação financeira.
- Contribuição para a segurança energética: A implementação de projectos de armazenamento de CO2 pode ajudar a diversificar a matriz energética, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis e contribuindo para a segurança energética.
No entanto, é importante ressaltar que o armazenamento de CO2 não deve ser visto como uma solução isolada para a redução das emissões de GEEs, mas sim como uma parte integrante de um conjunto de medidas.
O armazenamento de CO2 pode ter várias desvantagens, como sejam:
- Custo: O armazenamento de CO2 pode ser um processo ainda muito dispendioso e pode ser necessário um financiamento significativo para cobrir os custos iniciais. Esta é a principal barreira para o seu desenvolvimento.
- Riscos associados: O armazenamento de CO2 pode apresentar alguns riscos associados, incluindo vazamentos e riscos para a saúde humana e o meio ambiente. É importante garantir que o armazenamento de CO2 seja realizado em locais geologicamente seguros e que sejam tomadas medidas de monitorização e mitigação de riscos.
- Disponibilidade de locais adequados: Nem todos os locais são adequados para o armazenamento de CO2, e pode haver limitações geográficas e geológicas para a implementação de projectos de armazenamento.
- Ainda é uma tecnologia emergente: Embora o armazenamento de CO2 já esteja sendo utilizado em alguns projectos em todo o mundo, ainda é considerado uma tecnologia emergente e há necessidade de mais pesquisa e desenvolvimento para melhorar sua eficácia e reduzir os custos.
- Não aborda as causas subjacentes das emissões de gases de efeito estufa: O armazenamento de CO2 pode ajudar a mitigar as emissões de GEEs, mas não aborda as causas subjacentes das emissões destes gases. É necessário adoptar medidas adicionais para reduzir as emissões em todas as fontes.
Existem vários projectos de armazenamento de CO2 em operação actualmente em todo o mundo. Alguns exemplos:
- Sleipner Project, Noruega: Iniciado em 1996, o projecto Sleipner é considerado o primeiro projecto comercial de armazenamento de CO2 em larga escala. O CO2 é capturado numa instalação de processamento de gás natural e injectado num reservatório subterrâneo de salmoura.
- In Salah CO2 Project, Argélia: Este projecto iniciado em 2004, é uma parceria entre a BP, a Sonatrach e a Statoil e envolve a injecção de CO2 em campos de gás natural subterrâneos. O CO2 é capturado de campos de gás natural adjacentes e injectado de volta no subsolo.
- Gorgon Project, Austrália: O projecto Gorgon é uma instalação de liquefacção de gás natural que captura o CO2 gerado durante o processo e o injecta em um reservatório subterrâneo. O projecto iniciado em 2016 tem capacidade para armazenar 3,4 milhões de toneladas de CO2 por ano.
- Quest Project, Canadá: Inaugurado em 2015, o Quest Project é uma instalação de captura de CO2 que captura o CO2 gerado durante o processo de produção de hidrogénio em uma instalação de processamento de areias betuminosas. O CO2 é então injectado num reservatório subterrâneo de salmoura.
- Petra Nova Project, Estados Unidos: Este projecto iniciado em 2017 é uma instalação de captura de CO2 que captura o CO2 gerado durante o processo de produção de energia numa termoeléctrica a carvão. O CO2 é então injectado num reservatório subterrâneo.
Estes são apenas alguns exemplos de projectos
existentes de armazenamento de CO2. Há muitos outros projectos em
vários estágios de desenvolvimento em todo o mundo.
Sistema de captura de CO2 da Climaworks - "Orca" - Islândia
A laia de conclusão podemos afirmar que a captura e armazenamento do CO2 é ainda um processo em desenvolvimento com custos demasiado elevados e que só se justifica no âmbito das actividades de investigação e desenvolvimento para aplicação em projectos piloto, não tendo, ainda, qualquer impacto significativo na redução das emissões de CO2 livre na atmosfera.
Cascais, 11 de Abril de 2023
João de Jesus Ferreira [2]
[1] Gases de Efeito Estufa (GEE). De entre estes gases, estão o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O), Perfluorcarbonetos (PFC's) e também o vapor de água.
[2] O autor escreve, por opção pessoal, de acordo com a antiga ortografia.