José Aleixo Dias

Memórias, histórias e rabiscos 

Eu já tinha como propósito deixar as minhas memórias à família, trabalho que almejava abraçar quando me reformasse e, para o qual, fui reunindo pesquisas sobre a nossa árvore genealógica, documentos e muitas fotografias. A pandemia de covid19 ao reter-nos compulsivamente em casa, contribuiu para que este processo se acelerasse.

Um dia, depois de uma partida de golfe, falaram-me em Transições e convidaram-me a escrever algo para partilhar nesta plataforma. Desde então nunca mais parei. Editei o primeiro livro conjuntamente com a minha esposa que igualmente contribuiu para Transições com textos variados.

Escrevo quase todos os dias. Procuro estar atento ao que acontece à nossa volta - uma palavra, uma atitude, uma resposta curiosa. Tudo me serve de "gatilho" para redigir uma crónica, lembrar uma história ou fazer uma reflexão. Quando as ideias surgem, tomo nota no telemóvel, e na primeira oportunidade, elaboro sobre isso. Depois, com calma, consolido no computador.

Também tenho feito alguma investigação sobre factos ocorridos nos locais onde habito, que me surpreendem pela originalidade, importância ou impacto e a que, muito poucos ou ninguém dedicou atenção. Num dos casos que investiguei perto de Lagos, toda a orografia do terreno foi alterada para cultivo de abacates, pelo que, se não tenho chegado mais cedo, não encontraria nada.

Motiva-me a curiosidade, o porquê das coisas, muita inquietação e alguma indignação com o que vejo acontecer nos nossos tempos. Ainda assim, "procurando caldear uma atitude cartesiana de disciplina do espírito, com compreensão e leves traços de ironia" - como diz um amigo meu.

Procuro estar atento ao que se passa e sou crítico ao que não se faz e devia fazer-se, bem como, ao que se faz, e melhor fora que não fosse feito. De permeio há memórias, geralmente gratificantes ou simplesmente engraçadas, que remetem o leitor para as suas próprias memórias.

Entristece-me que muitas pessoas não se interessem minimamente pela nossa história, achando que: "isso é coisa de gente morta", sem se interrogarem sobre as suas raízes. Alguns nem conhecem os personagens que deram o nome à rua onde vivem.

Perguntei uma vez na Assembleia de Condóminos do meu prédio quem tinha sido Dom Jerónimo Osório e apesar de cultos, ficaram todos a olhar para mim com um ar espantado, sem resposta. Numa rádio regional onde recentemente me entrevistaram, felicitei o pivot por terem atribuído o nome daquela rua a um excelente bibliófilo, escritor e estudioso das obras de Mário de Sá Carneiro e de Cesário Verde e a resposta foi a mesma.

Posso tirar algumas notas à mão, mas escrevo predominantemente no iPhone (em viagem), ou no meu computador (em casa).

Os meus livros são edições de autor, produzidos num número muito reduzido de exemplares, não se destinando ao circuito comercial, nem podendo ser vendidos.

Crónicas do dia a dia:

  • Eu & Eu
  • Trabalhos de Casa
  • Bagagem de mão
  • Melão por abrir (em revisão)

Memórias:

  • A Família
  • Amigos, colegas e colaboradores
  • Histórias, ciência e reconhecimento

Romance histórico:

  • Em elaboração

Em suma, sou um vulgar contador de histórias, um rabiscador de memórias, uma sentinela de erros e um proponente de ideias. Martelo as pobres teclas do meu computador na esperança de que o tema possa interessar ao leitor, que se reveja no que conto ou me conteste, se tiver uma opinião contrária.

Não sou escritor, nem me considero suficientemente habilitado para tanto.

A minha prosa é solta e abrangente, gramaticalmente perdulária, crítica da irresponsabilidade, do abuso, do desperdício e da ignomínia, e ao mesmo tempo, solidária com os que sofrem: gentes, animais ou o ambiente. É uma forma de me empenhar nas causas em que acredito, nestes tempos de reforma, a que o Estado português chama "velhice"!

Porque escrevo, eu sei!
Por quem escrevo, também.
Para quem escrevo: não tenho a certeza.

Redijo no recato da minha "toca", martelando as teclas com um só dedo, pejado de ideias a aflorar-me ao pensamento, numa inquietação permanente de expressar o que sinto, enquanto a vida mo permite.

A visão já não é o que era, esqueço-me com alguma facilidade das coisas, já tenho alguns problemas com a locomoção, e os amigos vão-se "apagando".

O que querem que eu faça?

Mantenho-me um observador atento mas, nem por isso, tenho de assumir vulgaridade na escrita ou nas ideias. Nem no estilo!

José Aleixo Dias
Lagos, 29 de Agosto de 2024