Joaquim Santos
A poesia salvou-me
Tudo começou com a minha mãe Tina
Esperança, um ser humano muito especial que ainda hoje continua a ser o meu
farol sempre activo e a minha guia espiritual que optei por seguir neste
propósito de vida que vai além das maravilhas terrenas.
A Tina escrevia, em prosa e em versos. Era uma mulher admirável, uma mãe que teve oitos filhos, três rapazes e cinco raparigas. Eu sou o mais velho e sempre me senti diferente de todos e sempre notei que de todos os irmãos eu era o mais protegido visto e acarinhado por outras pessoas. A Tina tinha apenas a segunda classe. Minhota, veio muito nova para Lisboa servir na casa do Marcelo Caetano. Depressa formou um lar numa pacata aldeia, hoje Vila de A-dos-Cunhados, onde vivia uma sua irmã, Maria da Dores, minha segunda Mãe. Houve uma terceira mãe, a tia Isaura, que me amamentou enquanto a minha mãe Tina teve de ser hospitalizada. Fui um menino sortudo, 3 mães que adorei e respeitei e moram no meu coração.
A Tina depois dos filhos criados dedicou-se aos estudos tornando-se numa aluna exemplar, só não completou o 9º ano porque o maldito câncer a impediu de continuar. Dedicou-se à escrita, aos bordados, ao voluntariado. Sempre pronta para dar uma mão a quem precisava de cuidados, contava e dedicava histórias em prosa, em versos que eu lia e corrigia.
Durante a minha adolescência devorava livros do Círculo dos Leitores que mandava vir pelo correio. Cheguei a escrever um livro em prosa numa das famosas máquinas Olivetti que me tinham emprestado, mas nunca tive jeito e inspiração para a poesia, quando precisava de algum poema encomendava-o à minha mãe.
Em finais do ano 1996 a minha querida Mãe partiu, vai fazer vinte e oito anos que lhe dei o último beijo, ainda hoje o sinto.
Foi muito dolorosa a sua ausência; durante dois meses andei perdido, deprimido, entrei em esgotamento e adoeci.
Aos poucos fui recuperando e comecei a ficar impaciente, com vontade de fazer alguma coisa, de me sentir vivo, e foi a escrita o factor decisivo na mudança da minha vida.
Numa noite, precisamente a 7 de abril de 1997, comecei a rabiscar. Precisava de escrever, de desabafar em silêncio. Lembro-me que peguei num bloco de papel de carta e comecei a escrever uns versos a que dei o título de desabafos. Escrevia rimando, com uma facilidade que nem parecia ser minha. O poema tinha vinte e sete quadras. Eram versos simples mas para mim especiais porque foram a força do início de uma mudança na minha vida.
DESABAFOS
Desabafos é o título
É uma forma de expressão
Vamos passar ao 2º capítulo
Ler toda esta confusão
Este foi o primeiro verso, outros tantos se seguiram. Com a poesia conseguia falar, gritar, chorar sem ter que depender de ninguém. Sentia também que era desta forma que eu comunicava com a minha Mãe. Tenho o hábito de dizer que foi nessa noite que ela desceu do céu e deixou-me o seu dom porque foi a partir desse dia que passei a sentir-me diferente e que renasci para a vida.
Depois dessa noite, nunca mais deixei de escrever.
Comecei por publicar num site brasileiro de poesia - O Recanto das Letras com um pseudónimo Joakim Santos. No Recanto das Letras tenho 202 textos e mais de 12000 visualizações.
Fiz-me depois membro da U.L.L.A - União Lusófona das Letras e das Artes e da A.P.P.- Associação Portuguesa de Poetas. Muitos dos meus poemas foram gravados e passados em programas Argentinos de poesia e também numa rádio portuguesa.
Hoje tenho uma página de Facebook chamada "Encantos do Silêncio" onde publico os meus poemas.
Participei também em alguns livros, antolgias poéticas: Antologia do Amor em 2009 pela ULLA, Antologia do Silêncio pela ULLA em 2010, Antologia da Saudade em 2013, a Nossa Antologia em 2009 pela APP, a Coletânea da poesia em 2013 pelo Souespoeta, na Varanda das Estrelícias do Joaquim Evonio, no livro Mãos que falam, onde o meu poema foi capa de um livro editado no Brasil. Recebi uma menção honrosa de poeta internacional pela Academia Virtual Sala de Poetas e Escritores (AVSPE). Balneário Camboriú/Santa Catarina.
Participei num concurso de uma editora do Porto. de prosa e poesia de contos fantásticos, e ganhei o direito de participar no livro com um conto, o beijo da morte, e um poema, a dama de branco.
Hoje tenho espalhados um pouco por todo o lado umas centenas de poemas rabiscados em cadernos, em suporte informático, uma paixão que não vai parar.
Tantas histórias por contar, talvez um dia as conte, mas hoje posso dizer que a poesia me salvou, não da morte, mas de uma vida que eu não queria e permitiu-me ser hoje mais EU.
Joaquim Santos
Queluz, 25 Setembro de 2024